Um elemento genuinamente brasileiro

Se há um elemento genuinamente brasileiro que, perante o mundo, destaca-se sobremodo, é a tal espiritualidade, como se convencionou chamá-la. Neste quesito o Brasil, ainda que não se reconheça, põe-se dignamente se não ao lado, a um nível muito chegado ao de qualquer país, a despeito de quão mais antigo seja. E se lhe comparamos o refinamento espiritual a um país de idade parelha como, por exemplo, os tão invejados Estados Unidos, o resultado é acachapante. Tal é simplesmente um fato. A maneira como aqui se desenvolveram e enriqueceram as tradições religiosas, quais importadas, quais originais, é impressionante e não se deve apenas ao sincretismo e à miscigenação cultural. Nasceram em solo brasileiro indivíduos singularíssimos, alguns verdadeiros gênios, algo que já poderia muito bem servir como os “pretextos pessoais e históricos” que, segundo Nelson, justificariam a falta de autoestima tupiniquim.

Toda filosofia que aposte na individualidade…

Toda filosofia que aposte na individualidade correrá o risco de ser desvirtuada pelas massas. A filosofia que, como a de Nietzsche, estimula o indivíduo a afirmar-se, concretizando a própria vontade no curso de uma vida, exige um leitor individualizado e rejeita veementemente a generalização. Uma filosofia assim pressupõe a consciência da própria unicidade e a existência de uma motivação fundamental e intransferível, sem a qual fica o ato injustificado e com a qual pode-se quase tudo. Não se pode exigi-lo do homem comum…

Um sólido conhecimento do homem

O maior valor da psicologia, e mesmo da filosofia, consiste em fornecer um sólido conhecimento do homem para que o indivíduo que as estuda possa empregar-se com segurança na condução da própria vida ou, noutras palavras, para que possa empregar-se com segurança no direcionamento consciente da própria vontade. O estudo do homem é válido enquanto permite o estudante entender-se, descobrir-se e, finalmente, ser o que quer. Conectando-se com a própria vontade, chega o momento em que o estudo limita-se a fornecer motivos para a sua reafirmação.

O trabalho criativo

O trabalho criativo depende, essencialmente, de duas coisas: (1) da capacidade de estimular, permitir e apreender novas ideias e (2) da capacidade de aproveitá-las. No primeiro caso, temos, sumariamente, o esforço intelectual e a atenção, qualidades que, ainda que não intencionalmente, são incitadas pelo simples querer criar. Já no segundo, dá-se algo mais custoso, e talvez a maior diferença entre o artista fecundo e o infecundo resida justamente nisso: na capacidade de concretizar as ideias que têm, não deixando que elas se percam e se vão tão naturalmente como vieram. Tal capacidade é, simplesmente, a capacidade de agir. Disso se nota que o trabalho criativo, para que efetivo, exige não somente as ideias, o concebê-las e o captá-las, — algo que se pode fazer sem esforço; — mas requer um estado mental que se resume numa prontidão permanente para a ação.