O afastamento que não parece ter limites

O afastamento que não parece ter limites entre o português culto, já agonizante, e o português falado no Brasil, somado ao desinteresse cada vez maior pela escrita, evidenciado pelo aumento exponencial da oralidade, são motivos suficientes para demonstrar que, quem escreve hoje, escreve para potenciais leitores futuros. Por um lado, é isso um excelente incentivo à grande literatura, à literatura dos temas atemporais. Por outro, é o retrato de uma cultura morta, que inviabiliza, por exemplo, uma revista literária com autênticos literatos. Até a mídia escrita, se exclusivamente escrita, já parece inviável. Não é exagero dizer que, hoje, escrever é ou um ato de gratidão, ou um ato de fé.

 

A maior prova da inadaptação do homem…

A maior prova da inadaptação do homem ao mundo e de sua incapacidade de compreender as escalas da realidade é que praticamente todas as línguas não diferenciam o verbo ser do verbo estar. Um verdadeiro escândalo, posto que ser e estar, ou melhor, aquilo que está e aquilo que é sejam coisas radicalmente distintas. Confundi-las é um erro de percepção tão óbvio e tão gritante que faltam palavras para descrevê-lo. Confundi-las é confundir, em suma, o imutável com o mutável, a permanência com a efemeridade, o que é e o que não é.

Alguma experiência na literatura escancara…

Alguma experiência na literatura escancara a desagradável verdade de que os períodos mais produtivos, as inspirações mais fecundas se dão sempre e exatamente nos períodos de maior tensão interior. Faz-se a melhor arte quando a mente se encontra agitadíssima, muitas vezes à beira do colapso. Os temas surgem, as palavras aparecem e, sobretudo, não se suporta a imperiosa necessidade de escrever. Que coisa!

O que mais desmotiva é ver…

O que mais desmotiva é ver que, afinal, o sonho da estabilidade é vão… Haverá sempre o dia em que, por razões desconhecidas, o mundo amanhecerá azedo, disruptivo, desagradável, e então se questionara o esforço, o progresso, a razão. E a conclusão será sempre a mesma, de que estabilidade plena só há no que não se move, de que a vida é antagônica à paz…