Continuo, obsessivo, em meu diálogo mental com Tolstói. É verdade, nunca conheci pessoalmente um mujique, nada sei sobre suas preferências artísticas. Mas sei sobre as da maioria brasileira. Viro-me a Tolstói e digo: “Dê uma olhada”. Abro, de uma só vez, as listas de maiores bilheterias no cinema, de músicas mais tocadas e de livros mais vendidos no Brasil no último ano. Para meu espanto, encontro Orwell e Emily Brontë. Para o espanto de Tolstói, são dois nomes em meio a um mar de lixo. “Está vendo? — digo-lhe sorrindo — a maioria tem horror à verdadeira arte”. Tolstói me não responde, deve estar a refletir sobre as críticas que teceu sobre a música de Wagner…