Riqueza e liberdade

Riqueza e liberdade

Tornou-se moda diferenciar sinônimos a fim de adequá-los a ideologias e vender qualquer sorte de conselho. Os exemplos são inúmeros: “solidão” e “solitude”, “objetivo” e “meta” e muitos outros. Recentemente, deparei-me com um sujeito a diferenciar “rich” de “wealthy”. Segundo ele, rich people são pessoas com muito dinheiro, enquanto wealthy people são pessoas com muita liberdade. O raciocínio é o seguinte: a verdadeira riqueza (que pode ser traduzida tanto como richness quanto como wealth) está, em verdade, associada à liberdade, à disposição de recursos que permitam a desobrigação do trabalho, que abram possibilidades, que não exijam alto custo de manutenção, que produzam um fluxo de caixa altamente positivo. Naturalmente, em seguida o cidadão pretendeu ensinar como ser wealthy. Mas fiquemos com a ideia: riqueza e liberdade, dinheiro e desobrigação. O sujeito tem razão no que diz. Há uma falsa ideia, amplamente disseminada em todo o planeta, de que sucesso é majoritariamente atrelado a dinheiro, felicidade à riqueza, e valor a sucesso. Reconheço facilmente um escravo moderno: alguém constantemente preocupado, refém de inúmeras obrigações, sequioso da segurança e orgulhoso do que pode comprar. Digamos que seja milionário. É milionário, mas não larga o telefone, não pode faltar ao trabalho, não pode deixá-lo e compromete-se com variadas prestações. Tem uma casa enorme, troca de carro com frequência, consome em altíssimo padrão. Seria isso sucesso ou, antes, seria isso valor? O dinheiro só é nobre enquanto meio à liberdade, e envilece quando conduz à escravidão. Aceitando-se escravo, inconsciente da própria condição, o milionário não é senão um fantoche do dinheiro, submisso a um pedaço de papel. Entretanto, aceito-me a rendição: “valor”, hoje, assim como todas as demais palavras, parece escapar-me à compreensão…

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