Simplicidade e ação

Simplicidade e ação

Guy de Maupassant, esse grande escritor francês, discorre-lhe sobre as concepções artísticas no ensaio Le roman, disponível como prefácio de seu Pierre et Jean. O ensaio é interessantíssimo: Maupassant esboça sua visão sobre os variados movimentos literários do século XIX, diz um pouco de suas influências e aborda algumas particularidades do processo de criação literária.

Vejamos dois pontos interessantes do ensaio.

Dizendo sobre o que julga ser o papel de um artista, diz Maupassant (em minha tradução):

Para nos mover ele deve reproduzi-la (a vida) diante de nossos olhos com uma semelhança escrupulosa. Ele, portanto, terá que compor sua obra de maneira tão habilidosa, tão oculta e de aparência tão simples que seja impossível ver e indicar seu plano, descobrir suas intenções.

Isso carrega um tanto de Flaubert, aliás, a quem Maupassant considerava seu mestre. Precisão, eis o resumo. Sem floreamentos, sem rodeios ou excessos: deve o artista pintar a vida exatamente como ela é.

Esse princípio percorre todo o ensaio e influi sobre diferentes aspectos do processo criativo. Em determinado momento, Maupassant diz sobre explicações excessivas, sobre ter o artista de ficar justificando a ação de suas personagens, como que pintando seu perfil psicológico a fundamentar-lhe as ações. Diz o autor:

Portanto, em vez de explicar detalhadamente o estado de espírito de um personagem, os escritores objetivos buscam a ação ou gesto que esse estado de espírito deve fatalmente induzir este homem em uma determinada situação. E eles fazem-no comportar-se de tal maneira, de um extremo ao outro da obra, que todas as suas ações, todos os seus movimentos são o reflexo de sua natureza íntima, de todos os seus pensamentos, de todos os seus desejos ou de todas as suas hesitações.

Deixar que falem os atos; ação…

Muito me agrada o estilo de Maupassant, assim como o de Stendhal, outro escritor francês associado ao realismo. Não creio o artista deva estender-se em explicações, tratar o leitor como uma besta. Deixar que as personagens falem — ou antes, ajam — é uma técnica efetiva para construir uma narrativa instigante, comovente e real.

Continuaremos nestas notas em outra ocasião. Por ora, a mensagem é esta: quando um professor põe-se a lecionar, fazemos bem em escutá-lo.

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