Às vezes parece a revolta de uma estupidez colossal, e mesmo que busquemos justificá-la, percebemos-lhe um fundo de imaturidade do qual ela não consegue se despojar. Manifesta-se, sobretudo, a carência de um senso de proporcionalidade mínimo, capaz de perceber que o contraste entre sujeito e objeto frequentemente os coloca em planos distintos, cabendo ao lado mais fraco, se sensato, apenas a consciente integração.
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A repetição é divertida por demonstrar…
A repetição é divertida por demonstrar que, anunciando-o, um problema não se resolve. E retorna de praxe sob novas formas, exigindo assim novo reconhecimento. É difícil, como é difícil manter a integridade no contato com o mundo! Se esse esforço é o que Goethe nomeava caráter, o mundo não pode ser encarado senão como um teste. E sem a prece, sem a meditação e sem a afirmação diária dos votos, degrada-se muito facilmente perante um mundo vencedor. Não há mais que dizer: a oração e a meditação são práticas altíssimas e indispensáveis. É distanciar-se delas, é distanciar-se das leituras construtivas, e o espírito se perde tão rapidamente quanto se fortalece quando delas se aproxima. Somente os tolos o podem negar.
Nelson Rodrigues gostava de repetir…
Nelson Rodrigues gostava de repetir que só um gênio seria capaz de tirar a inteligência brasileira do tédio. E enquanto viveu, percebe-se hoje, havia no Brasil uma inteligência passível de ser chacoalhada. Dir-se-ia, até, de que necessitava menos que um gênio para se movimentar. De lá para cá as obras perderam, se não força, efetividade. E para não repisar a ociosa crítica à inteligência inerte, o que salta aos olhos é a ausência de entusiasmo intelectual. Que há obras, que há autores, tem de os haver. Mas tornou-se dificílimo encontrá-los, quer pelo desinteresse generalizado, quer pelo falso interesse promovido sobre algumas obras. O resultado é haver barreiras e barreiras prejudicando o contato entre o autor e possíveis leitores. Estes, parece, ainda que tentassem encontrar o gênio, se renderiam aos obstáculos da procura.
Quase sempre, por piedade destas Notas…
Quase sempre, por piedade destas Notas, o comentário sai purificado do fato real contemporâneo que o motivou. Embora, sem dúvida, o efeito saneador seja palpável, talvez o comentarista pareça exagerar demasiado em seu radicalismo incontornável. Como, porém, é difícil comentar a atualidade! Daí que é preciso, às vezes, quebrar o protocolo. Arremataram num leilão em Nova Iorque, por mais de seis milhões de dólares, uma “obra” que consiste numa banana colada com fita adesiva numa parede. O comprador, dizem, adquiriu também o direito de replicar a “obra” quantas vezes quiser, e competirá a ele substituir a banana quando esta apodrecer. Que dizer? É, sem dúvida, uma manchete potentíssima; mas o que mais impressiona é ver nas milhares de matérias que não basta a obra, não basta o autor, não basta o preço, mas há plateia, há apreciadores, há divulgadores, há uma profusão vertiginosa de interessados! É demais! Cuidem-se bem estas Notas, pois o risco do contágio é real!