Quem se atenta para a fragilidade das relações…

Quem se atenta para a fragilidade das relações humanas percebe que nelas não se pode confiar. Às vezes chega a parecer que elas, todas elas, nascem condenadas a morrer. As que aparentam bem-sucedidas, basta aguardar para ver o dia em que, de repente, a confiança se quebra, e então tudo acabou. Nem é preciso tanto: por muito menos, por vezes a relação azeda, segue-se o natural afastamento e, quando menos se percebe, já se dera o rompimento total. Nunca, nem a melhor, a mais duradoura das relações, está demasiado segura de um fim intempestivo. Entristece notá-lo, mas as coisas são assim.

Quando se observa, uma única vez…

Quando se observa, uma única vez, uma criança a perder a inocência, o conceito que se faz do homem não pode permanecer. Aqui, passa-se algo indizível, com muito esforço simbolizável, mas que palavras nenhumas conseguem precisar. Lembra-se do Éden, lamenta-se, contudo o próprio lamento é dúbio, porque é difícil classificar a experiência como inteiramente má. Na criança, algo se perde; porém algo se ganha. O estado anterior, decerto, não retorna, e por isso parece haver para a experiência uma espécie de condenação. Mas esta, se acarreta alguma mágoa e alguma saudade, inaugura uma nova dimensão. A criança, ao perder a inocência, começa a tornar-se consequente; e é a partir deste momento que o mérito poderá florescer.

O orientalismo ter virado moda no ocidente…

O orientalismo ter virado moda no ocidente no último século e, como se espera das modas, ter corrompido as virtudes de seu objeto, não mudou em nada o fato de que, ao ocidental, o oriente pode ser extremamente instrutivo, e até encantador. Porque, a despeito da moda, permanecem os contrastes e, a despeito da moda, permanecem as lições. Este lado positivo, mais do que nunca, tem de ser ressaltado; talvez se há inclusive de admitir que, graças à moda, há hoje um número de traduções que seria impensável há dois séculos. A sabedoria antiga tem a vantagem da solidez: deturpem-na quanto quiserem, mas os textos continuam como são.

É difícil imaginar como uma personalidade…

É difícil imaginar como uma personalidade minimamente íntegra se pode consolidar sem que cultive a lealdade. Porque sem esta, afinal, tudo se dissolve. A consistência fundante da personalidade é o pouco que tenha de leal. É aquele imutável, seguro, aquela essência que o tempo acentua, aquela linha que não se ultrapassa sem a desfiguração. Em torno dela que o mais se desenvolve; sem ela, virtude nenhuma se sustenta e limita-se a ser esporádico quanto apareça de bom.