O orientalismo ter virado moda no ocidente no último século e, como se espera das modas, ter corrompido as virtudes de seu objeto, não mudou em nada o fato de que, ao ocidental, o oriente pode ser extremamente instrutivo, e até encantador. Porque, a despeito da moda, permanecem os contrastes e, a despeito da moda, permanecem as lições. Este lado positivo, mais do que nunca, tem de ser ressaltado; talvez se há inclusive de admitir que, graças à moda, há hoje um número de traduções que seria impensável há dois séculos. A sabedoria antiga tem a vantagem da solidez: deturpem-na quanto quiserem, mas os textos continuam como são.
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É difícil imaginar como uma personalidade…
É difícil imaginar como uma personalidade minimamente íntegra se pode consolidar sem que cultive a lealdade. Porque sem esta, afinal, tudo se dissolve. A consistência fundante da personalidade é o pouco que tenha de leal. É aquele imutável, seguro, aquela essência que o tempo acentua, aquela linha que não se ultrapassa sem a desfiguração. Em torno dela que o mais se desenvolve; sem ela, virtude nenhuma se sustenta e limita-se a ser esporádico quanto apareça de bom.
O que a fama parece ter de mais nocivo…
O que a fama parece ter de mais nocivo é turvar o juízo tão sorrateira, tão imperceptivelmente que, mirado à distância, o famoso parece ter perdido a noção de si mesmo. Perante isso, a vaidade é um detalhe. Vem à mente mais uma vez o livro de Paul Johnson — livro que aparenta escrito para jamais se desgarrar da memória. Pensamos naqueles, e noutros aos quais a fama concedeu o seu abraço traiçoeiro, e vemos o quão destrutiva lhes foi para a consciência, o quão feia nos parece a manifestação do altíssimo conceito que tinham de si perante os demais. Às vezes, o mais da crítica corriqueira aos estoicos não passa de implicância temperamental: um Marco Aurélio, quando cotejado a um Rousseau, é muito mais do que um grande sábio.
É preciso ter o dia arruinado…
É preciso ter o dia arruinado por um imprevisto para que a mente se recorde de como são maravilhosos aqueles dias em que nenhum distúrbio acontece. Esquecemos de valorizar a placidez até que nos suba o impulso de vociferar contra a sorte pelos planos destruídos. Mas é inevitável… Que seja, pois, o mau dia útil para que se aprenda a dominar a raiva e aprender essa lição…