A tirania vence apenas quando o medo que infunde…

A tirania vence apenas quando o medo que infunde paralisa e neutraliza a reação; quer dizer, vence quando silencia a consciência. E por isso corrompe, humilha e mata; mas sempre acaba sucumbindo, porque não pode silenciar aqueles para os quais é esta uma vida perdida, que encerra justamente no perdê-la a mais bela e honrosa justificação.

É mesmo inevitável essa simpatia…

É mesmo inevitável essa simpatia que brota por aquele cujos inimigos desprezamos, e é uma simpatia que tanto mais se intensifica quanto piores estes se mostram; uma simpatia, portanto, que cresce a despeito do mérito do simpatizado. A injustiça é deplorável, e minora muito a aparência das falhas. Quando nos deparamos com um alvo da insídia e perfídia humana, não há como permanecermos impassíveis e, se não por afinidade, pela recusa da malevolência já nos colocamos em uma posição.

Diante de toda realização impossível…

Diante de toda realização impossível, diante dos milagres mais impressionantes, há sempre aqueles que se atêm à insignificância de um detalhe para contrariar o colosso, ou melhor, para afagar dentro de si a inveja e consolar-se pela incapacidade de realizar, ou sequer compreender semelhante realização. O homem é mesmo um animal deplorável… Para salvá-lo, só mesmo infinita misericórdia.

O que torna o gênio germânico curiosíssimo…

O que torna o gênio germânico curiosíssimo é o extremado perfeccionismo, presente desde as mais altas até as inferiores manifestações do espírito. Isso ocasiona, sobretudo, um contraste de dimensões descomunais entre os indivíduos de inclinações diferentes, de forma que espanta notar que nos países germânicos, tal como nos outros, há vizinhos de porta e há convívio social. Talvez a misantropia não tenha sido jamais praticada com tamanha devoção alhures, e talvez não haja povo com maior número de misantropos notáveis — para não falar em gênios…