O patriotismo e o antipatriotismo

Se algo está certo é que o patriotismo e o antipatriotismo ultrapassam o terreno da racionalidade e fundam-se, sobretudo, no temperamento, o qual é moldado mormente pela experiência. Em resumo, o patriota é alguém cujo senso de pertencimento se manifesta; já o antipatriota é alguém que se sente deslocado. São posturas psicológicas distintas, fundamentadas em sensações distintas, e que não passam disso: posturas psicológicas provenientes de sensações.

O mal do homem utilitário

O mal do homem utilitário é crer que tudo está necessariamente à venda, somente à espera de negociação. Daí que acaba, cedo ou tarde, quebrando a cara ao deparar-se contra a sua vontade com uma natureza que não partilha de suas convicções. Então esbraveja, trava guerra e por vezes insulta aquilo que não compreende; em todos os casos, porém, julgue-se ou não triunfante, é forçado a engolir a própria pequenez.

O moralismo é imprescindível

Os moralistas são, de fato, imprescindíveis para qualquer estudante sério, tal como o moralismo é imprescindível para a justa compreensão do homem. Sem ele, cai-se em incontáveis armadilhas, e erra-se sempre na valoração que se faz de espíritos e obras. Rousseau não pode ser compreendido através de seu infame Du contrat social, ou através daquela que, segundo ele mesmo, é sua obra mais importante. Compreende-se Rousseau somente quando se confronta este Émile com a nota biográfica que carece a maioria das edições: o autor que escreveu um volume de oitocentas páginas ensinando como devem os outros educar seus filhos mandou os cinco que teve para um orfanato.

No homem público, tolera-se…

No homem público, toleram-se muitos defeitos, e muitos deles parecem mesmo irrisórios quando nele se encontra clareza moral. Entre seus pares, é esta tão rara que, quando manifesta, parece ofuscá-los todos e ofuscar-lhe as demais qualidades. Numa arena dominada por falsidade e insídia, é quase um milagre quando se nota haver alguém que não se contaminou.