Às vezes é divertido imaginar a reação de um destes europeus realíssimos e literários, que aliam o rotineiro mau humor à prática da misantropia, se expostos à ousadia destes ambulantes que pululam nas metrópoles brasileiras. Quanto tempo suportariam, sem que explodissem e acabassem partindo para a agressão? Difícil dizer… Mas bastariam uns poucos minutos a pé em qualquer avenida movimentada para que notassem que, aqui, inexiste essa coisa chamada constrangimento, essa inibição saudável perante um desconhecido, esse respeito que se manifesta por um desejo de não incomodar. Não, não… aqui dá-se o oposto, e idêntica irritação brotaria no ambulante alvejado pela desfeita de encontrar um transeunte que não esteja inteiramente disponível, inteiramente aberto e ansioso pela abordagem intempestiva. Dois animais cuja relação não pode senão resumir-se em repulsa e confronto e que Deus, pelo bem do planeta, faz bem em separar.
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A tirania vence apenas quando o medo que infunde…
A tirania vence apenas quando o medo que infunde paralisa e neutraliza a reação; quer dizer, vence quando silencia a consciência. E por isso corrompe, humilha e mata; mas sempre acaba sucumbindo, porque não pode silenciar aqueles para os quais é esta uma vida perdida, que encerra justamente no perdê-la a mais bela e honrosa justificação.
É mesmo inevitável essa simpatia…
É mesmo inevitável essa simpatia que brota por aquele cujos inimigos desprezamos, e é uma simpatia que tanto mais se intensifica quanto piores estes se mostram; uma simpatia, portanto, que cresce a despeito do mérito do simpatizado. A injustiça é deplorável, e minora muito a aparência das falhas. Quando nos deparamos com um alvo da perfídia humana, não há como permanecermos impassíveis e, se não por afinidade, pela recusa da malevolência já nos colocamos em uma posição.
Diante de toda realização impossível…
Diante de toda realização impossível, diante dos milagres mais impressionantes, há sempre aqueles que se atêm à insignificância de um detalhe para contrariar o colosso, ou melhor, para afagar dentro de si a inveja e consolar-se pela incapacidade de realizar, ou sequer compreender semelhante realização. O homem é mesmo um animal deplorável… Para salvá-lo, só infinita misericórdia.