Algo que a modernidade facilitou…

Algo que a modernidade facilitou de forma extraordinária é a possibilidade de um ninguém, unicamente pelo mérito e pelo esforço, avançar e ascender. É um privilégio notar que alguém que leve a cabo seriamente um estudo, e atinja proeminência na área a que se dedicar, possui hoje uma infinidade de meios para divulgar o conhecimento conquistado e, mais, para viver de sua divulgação. Quer dizer: num ambiente praticamente sem limitações, é possível que o estudioso dedique-se àquilo por que se interessa sem depender de padrinhos. Neste quesito, não há como negar o benéfico e ostensivo efeito emancipatório da modernidade.

É sempre comovente quando notamos…

É sempre comovente quando notamos o nascimento de um espírito deslocado, seja no tempo ou no espaço. Quando o observamos, distanciados, ficamos com a sensação de uma total injustiça, de uma pena excessiva e injustificada por um crime não cometido, de uma tortura que só parece obstruí-lo senão puxá-lo para trás. E comove notar que um pouco, um nada que a maioria tem, lhe tornaria a existência significativamente mais agradável. Contudo, quando lhe analisamos a trajetória e buscamos a motivação para cada um de seus passos, percebemos que estão todos eles enraizados neste deslocamento que, profundamente sentido, gera um desconforto que impele a ação. É um desconforto, portanto, produtivo, que necessita expressar-se e necessita agir a fim de atenuar o sentimento; é um desconforto que, em suma, não permite a acomodação.

O experimento comunista

Apesar de toda a extensa documentação a respeito do horror do experimento comunista sobre a terra, um horror tão absoluto que torna quase impossível uma investigação prolongada sobre o tema, visto que investigá-lo é deparar-se com relatos infinitos de privações, miséria, tortura, corrupção moral e aniquilamentos tão variados quanto a imaginação humana, é inacreditável notar que a palavra comunismo não só não desperta o terror condizente, mas a muitos é inócua e a outros ainda seduz. Este fato é uma exclamação tão acachapante que tem de, obrigatoriamente, ser evidência de uma profunda lição. A nível coletivo, o comunismo resumiu-se a uma carnificina que elevou a miséria a um patamar inédito; a nível individual, resumiu-se à degradação. Neste deplorável experimento, o que se viu foi o florescimento daquilo que há de mais traiçoeiro e selvagem, a expansão desenfreada da crueldade e da opressão; o indivíduo médio foi submetido a uma vida de miséria e privações involuntárias, espólio, tortura psicológica a níveis inconcebíveis, de forma que sua própria sobrevivência passou a ser condicionada à submissão. Fuzilamentos incessantes, sem motivo nem piedade, mas que, diante do cenário geral, mais pareceram um livramento aos fuzilados… E tudo isso, embora massivamente registrado, embora ao lado de um obituário infinito, parece inútil. Só há uma lição a se tirar: o homem é absolutamente incapaz de aprender.

O que há de próprio e distintivo…

Embora esteja evidente o que há de próprio e distintivo na cultura brasileira, mais evidente é a mania de querer imitar outras culturas, especialmente naquilo que elas têm de pior. Essa importação de defeitos, que só tem a se acentuar com a cada vez mais intensa globalização, parece fundada numa necessidade injustificável de aceitação, que renuncia à autenticidade e estabelece um elo falso visando agradar. As nações têm suas particularidades, e o que chamamos tradição — esse bicho que não é nada sem o tempo — se estabelece, primariamente, como a capacidade de reconhecê-las, algo que decerto carece esse nosso jovem país.