O indivíduo comum só tomaria consciência da importância dos valores e condições que lhe foram legados caso pudesse sentir, na carne, tudo quanto foi sofrido pelos seus antepassados. Algo, pois, impossível. Poucas palavras são, por exemplo, tão secas como “liberdade” quando pronunciada em países livres. A semântica esconde o volume de sangue derramado para conquistá-la e, para que cidadãos livres a compreendessem, seria preciso que vivenciassem a sua ausência. O mesmo se dá em muitos outros casos, e disso percebemos que, quando a história e a educação lhe são inúteis, é ridículo falar neste tal “progresso”.
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Uma geração nunca aprende com o passado
“A história se repete” é uma afirmação verdadeira porquanto amparada na absoluta incapacidade humana, atestada por cada geração, de transmitir adiante o aprendizado de suas experiências. Por isso a civilização acha-se sempre à beira dos mesmos colapsos e revoluções pregressas, refém dos mesmos erros, explorada por novas versões das mesmas armas, sujeita aos mesmos esquemas de domínio, aos mesmos tipos guiados pelas mesmas ambições. Uma geração nunca aprende com o passado, e o que aprende com o presente terá de ser aprendido com o presente de novo e de novo pelas próximas gerações.
De vez em quando, surgem pessoas…
Diz Evanildo Bechara, em sua Moderna Gramática Portuguesa:
De vez em quando, surgem pessoas que querem ver expurgadas dos dicionários certas palavras depreciativas de povo ou localidade (como judiar, baianada e outros). É excesso de sentimento a que a História não se curva, nem o povo leva em conta, porque, no uso do termo, não entra nas minúcias históricas do pesquisador, nem procura, usando a palavra, fazer juízo específico a respeito do povo ou da localidade.
Que coisa! É este o tipo de comentário que, hoje, não espantaria se colocasse o quase centenário professor numa jaula, após arruinar-lhe por completo a reputação e aviltar-lhe publicamente a obra. Contudo, se algo é atestado pela história, é que ideologia ou censura de nenhuma espécie pode competir com uma língua viva, falada e moldada majoritariamente por aqueles que não dão a mínima para os frequentes delírios de cabeças vazias. É um embate, sem dúvida, divertido de se ver, cujo resultado é sempre o mesmo e nos dá uma justa dimensão da vitalidade e da independência de um idioma.
Se algo se atingiu pelo enfraquecimento…
Se algo se atingiu pelo enfraquecimento da religião no ocidente, foi o enfraquecimento dos vínculos sociais no nível mais básico. O próximo bíblico tornou-se, mais do que nunca, um estranho, e o sentimento que permeava ou deveria permear uma comunidade, seja ele qual fosse, transformou-se numa generalizada e absoluta desconfiança. Rompeu-se um elo comum sem substituí-lo, e o resultado só poderia ser a segregação. Disso, não se pode concluir senão que o mundo tornou-se um lugar ainda mais hostil.