A maturidade talvez se faça notar…

A maturidade talvez se faça notar por ser a fase em que se torna impossível começar uma empreitada e posteriormente abandoná-la, em que se pensa sempre no fim e aquilo que se faz é feito para que, se não termine num ponto previamente definido, perdure pelo resto da vida. É uma fase em que desaparece o ânimo pelo teste curioso e passa-se a agir com segurança e resolução. É uma fase, pois, em que se enxerga simultaneamente a motivação e o objetivo, só movendo esforços em prol daquilo que esteja em consonância com a natureza interior. Há homens que jamais a alcançam…

Fatigados da intriga…

Mais uma de Maricá:

Chegamos a uma idade em que, fatigados da intriga e trapaçaria humana, preferimos o retiro à companhia e sociedade dos homens.

Esta ventura, com sorte e idealmente, tem de ocorrer antes dos trinta, quando menos se perdeu e mais se tem a ganhar. Após esta idade, a falta de vivência cobra um preço demasiado alto… São muitas as ilusões toleráveis, e até benéficas que se pode carregar no curso de uma vida; a ilusão com os homens, porém, quanto antes erradicada, melhor.

A civilidade chega a limar…

Outra de Maricá:

A civilidade chega a limar de tal modo os homens que por fim os deixa, sem cunho nem caráter, lisos e safados.

Civilidade é outro nome para o fingimento, ou a mentira indispensável para que exista atividade social. Praticá-la, se é necessário, é tarefa a ser executada com máxima cautela e sempre a contragosto. Se porventura deleite, ou chegue o momento em que já não desagrade, é sinal de que o caráter, se havia, se dissolveu.

Os maiores lisonjeiros

De Marquês de Maricá:

Os maiores lisonjeiros são também ordinariamente os piores maldizentes.

A língua tem esta característica: se estimulada com frequência, perde completamente o controle de si. Quem se acostuma ao silêncio, pratica-o instintivamente; mas quem se acostuma à tagarelice, torna-se impotente para se calar. O cérebro como se vicia em transferir de praxe para a língua aquilo que irrompe na mente; e o vício, naturalmente, crava-se como necessidade. Para não avançar constatando que amiúde a lisonja e a maledicência partem de mesmíssima motivação…