A história de grandes homens que se destacaram da multidão

Já disseram — Carlyle? — que a história da humanidade é a história de grandes homens que se destacaram da multidão nula que a compõe. Disto, a tragédia moderna: a estrutura social democrática simplesmente coíbe a ascensão de grandes homens, colocando-lhes no lugar demagogos abjetos, escravos da vontade popular. Para ascender e alcançar reconhecimento, o homem moderno precisa transformar-se num porta-voz da maioria estúpida, deixando de lado sua individualidade para tornar-se um animador de circo, um agitador de multidões. Justamente o distinto é que não pode ascender, sendo esta possibilidade exclusiva para aqueles que se assemelham ao maior número possível de indivíduos. O fracasso!

Nostalgia do tempo dos duelos

Hoje, um imbecil sente a vaidade arranhada e, em vingança, age à socapa para prejudicar o outro, movendo contra ele uma campanha de ódio — isto é, incitando outras pessoas a odiá-lo; congregando uma maioria covarde. Há alguns séculos o ofendido, o verdadeiramente ofendido, podia lançar mão do desafio, requintando-o caso deixasse a escolha da arma a cargo do desafiado. Este, recusasse, assumia-se covarde e a honra do ofendido era automaticamente desagravada. O duelo era instrumento que atirava ofensores em péssima situação: o ofendido só tinha a ganhar. Perdendo o duelo, saia como corajoso; vencendo-o, tinha o prejuízo moral retribuído. Como tudo mudou! Nesta era de covardes, o duelo em condições de igualdade já tornou-se literatura: não há quem desafie e muito menos quem tenha coragem de aceitar um desafio. Naquele tempo, onde a possibilidade de um duelo era patente, as pessoas respeitavam-se mais.

O poder é sempre o reflexo de uma relação de domínio

Se medimos o poder pela aptidão — disponibilidade de meios — para a corrupção da vontade ou ação alheias mediante a imposição da própria vontade, vemos que o poder é sempre o reflexo de uma relação de domínio. Se quebramos a relação e isolamos o lado dominador, analisando-o de si para consigo mesmo, notamos que tal poder é inútil e ordinário. O desejo de poder, na acepção vulgar, é sempre um desejo que foca as lentes no outro, na subjugação do outro, no fortalecimento perante o outro — e, por isso, abjeto. Desejar influência é demonstrar-se alguém que, não obstante a vaidade manifesta, reputa o outro em destaque na equação da própria vida — menosprezando-o, porém, como inconscientemente menospreza a si mesmo.

A sociedade tornou-se radicalmente mais cínica

Com a democratização do ocidente, o advento da imprensa e, especialmente, do marketing, a sociedade tornou-se radicalmente mais cínica e seus meios de opressão ainda mais perversos. O Estado fortaleceu-se como nunca e ampliou-lhe os métodos de controle social, assumindo o posto de Deus e travando guerra contra a manifestação do indivíduo, reduzindo-o a nada e taxando-o de criminoso caso se lhe oponha às imposições tirânicas e imorais. Tornou-se prévia a censura e velada a condenação, foram anulados pela psicologia de massa os mecanismos de defesa — tudo isso operado por uma autoridade assentada sobre uma fundamentação falsa e hipócrita que só faz crescer. O cinismo e a mentira jamais foram utilizados com tanta eficácia como instrumentos de dominação e poder.