Embora seja um tema de quinta categoria, a investigação da origem das ideologias políticas que correm na boca das massas ensina um bocado sobre a corrupção moral do homem. A perversidade e o cinismo daqueles que parem ideologias é de espantar o mais calejado dos moralistas. Tarados por controle, especialistas na eficacíssima ciência da mentira, despojaram a política de qualquer moralidade e a transformaram na simples arte da maquinação. Surpreende vê-los, em absoluta desfaçatez, apregoando narrativas falsas a revestir os mais vis interesses e que efetivamente condenam à miséria aqueles aos quais pedem — e conseguem! — apoio. É uma depravação sem limites. Instrutiva, porém, posto ensina o quão baixo o homem pode chegar.
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O artista que preocupar-se demasiado…
O artista que preocupar-se demasiado com as conjunturas sociopolíticas de seu tempo logo ver-se-á desperdiçando o intelecto com questões que não pode resolver, ou seja, gastará neurônios inutilmente e acabará frustrado. É claro que é algo pouco inteligente… Se há questões desta estirpe que poderão afetá-lo, o prudente é tão somente conhecê-las, precaver-se caso necessário e, se vierem efetivamente a bater-lhe na porta, adaptar-se como puder. Portanto agir, mas apenas se lhe não houver outra opção. E no mais, não preocupar-se com aquilo que não tem controle, direcionando-lhe o foco para o mais importante e que lhe permite campo de ação.
O homem recluso, acostumado ao silêncio…
De Zimmermann, em minha tradução francesa:
On a dit avec raison que les savants astreints à une existence solitaire, et occupés de graves travaux, ne peuvent avoir ni la gaieté d’esprit, ni l’élégance de manières, ni la vivacité d’entretien des personnes qui vivent habituellement dans le monde et qui en connaissent tous les usages.
É claro que um homem de hábitos tão raros e tão contrastantes com aqueles dos homens comuns se mostrará, pelo próprio comportamento, essencialmente diferente. O homem recluso, acostumado ao silêncio e à meditação profunda, molda-se a encontrar progressivamente inóspita a agitação dos ambientes comuns. É natural que perca completamente essa expansividade, essa sociabilidade ordinariamente tida como “boas maneiras”. Estas, aliás, não podem senão causar-lhe repulsa e espanto. Tudo se resume a uma questão de hábitos: agrade-lhe ou não, são estes que definirão, com o tempo, aquilo que um homem é.
Vigny e eu
Muito do que Vigny diz de si mesmo eu poderia atribuir a mim sem alterar uma vírgula. Tenho, como Vigny, esse “besoin éternel
d’organisation”, sem o qual não me movo; sou, como ele, “seul”, “exempt de tout fanatisme”; também a mim a vida cuidou dotar-me desta “sévérité froide et un peu sombre” que não é inata; quanto ao método criativo, identicamente concebo, planejo, moldo e deixo esfriar antes da execução final; poderia também dizer com toda a minha alma que “l’indépendance fut toujours mon désir”; compartilho, ainda, a repugnância de Vigny às futilidades, fruto de alguém que, estando “toujours en conversation avec moi-même”, encontra no estorvo das interrupções sempre motivo para frustrações… e a lista poderia continuar. Vigny, contudo, faz a nota: “Aimer, inventer, admirer, voilà ma vie”. Ah, Monsieur! Lamentavelmente, estas vossas palavras já não posso subscrever… Não faz mal: Deus me deu o senso de humor.