A democracia acabará enforcada pelos democratas

O diagnóstico é antigo:

A maior desgraça da democracia é que ela traz à tona a força numérica dos idiotas, que são maioria na humanidade.

Tento imaginar o que Nelson diria presenciasse nossos dias de internet e redes sociais. Nas principais democracias do mundo, a liberdade de expressão já não é plena: há opiniões proibidas, há censura. A massa de idiotas aniquila tudo quanto a desagrada escutar. Nunca houve tamanha facilidade para que o ódio se organizasse e encontrasse meios de ação. As turbas digitais revoltam-se, empenham-se pelo juízo prévio de valor e logram, fatalmente, privar alguns do direito de falar. Destroem facilmente carreiras, reputações, trabalham com afinco imensurável pela ruína total dos objetos do seu ódio. O capital cede, é avesso à polêmica, arrepia só de pensar no detrimento da própria imagem. E a democracia não faz senão lhes validar a fúria, posto ser o regime em que maioria implica direito, denota razão. Cientistas sociais debatem: como barrar a ação do ódio organizado? Como impedir que a moral vigente, mais uma vez, sufoque metodicamente as manifestações dissidentes? Difícil… Muitos e muitos ainda serão honrados com as chamas da fogueira deste tempo. O ódio é o impulso humano mais potente, não cede enquanto não consuma a própria obsessão. Continuarão a odiar, odiar, odiar, até que a democracia acabe enforcada pelos democratas.

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O gosto do verbo

É verdadeiramente impressionante o ser humano gostar de falar, falar, falar, quando o silêncio é infinitamente mais prazeroso. Relacionar-se ou, em outras palavras, envolver-se numa irritante e interminável guerra de vaidades… Conhecer gente: que é isso, meu Deus do céu? Tempo, esse bem finito, despendido de maneira, sobretudo, perniciosa. Mas há pior: o verbo, o tremer das cordas vocais quase nunca é fruto de uma motivação nobre. Má intenção, resultados desagradáveis… e continuamos a colecionar inconvenientes…

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O colapso da democracia

Divirto-me, por alguns minutos, imaginando hipóteses para o colapso natural da democracia. O colapso é natural porque a democracia é naturalmente falha e incompetente. Vamos ver: a primeira hipótese seria algum tipo de revolução. Difícil… Revoluções fazem barulho, o povo é o senhor do barulho, e dificilmente o povo apoiaria uma revolução para a abdicação do próprio poder. O povo jamais diria: “Realmente, sou um imbecil, e o mundo seria melhor se eu deixasse de me meter em questões que não tenho a menor capacidade de avaliar”. Por isso, ainda que regiões democráticas se vissem na miséria, dificilmente uma solução não democrática seria aprovada pela “vontade soberana”. Segunda hipótese: a subjugação pela força. Países não democráticos submeteriam os menos desenvolvidos e passariam a controlá-los politicamente. Muito, muito difícil se feito a descoberto: culminaria em guerra, mortes, revolta, etc. etc. Uma guerra parece-me, sobretudo, pouco inteligente. Há uma terceira hipótese, ainda considerando a subjugação pela força, porém de forma velada. Quer dizer: pela força econômica, os mais desenvolvidos e não democráticos solapariam a soberania dos atrasados. Parece-me perfeitamente possível, posto os infinitos e hipotéticos meios de execução. Tapear o povo seria tarefa facílima na era do marketing. Difícil, talvez, seria subjugar o ego dos representantes da vontade suprema. Mas para isso há capital, há tecnologia da informação, há engenharia de intimidação. Engraçado: ainda que dispensemos entrar em teorias da conspiração, a conjeturar conluios entre a elite global, resta evidentíssimo um balão inflando, inflando, inflando, e é inevitável não divertir-se imaginando-o a estourar.

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Todo ataque de natureza moral é, antes, um testemunho da vaidade

Todo ataque de natureza moral é, antes, um testemunho da vaidade. Quem ataca considera-se moralmente superior ao atacado. Quando executado em massa, porém, não só a vaidade manifesta-se, como a covardia e, quem sabe?, um certo sadismo, natural aos membros da insigne espécie quando incapazes de controlar-lhes os impulsos mais perversos. Destes, espera-se o que se espera de uma hiena: o sorriso de escárnio e o sangue a escorrer pelos dentes.

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