Uma qualidade genuinamente brasileira, certamente entre as mais positivas sob muitos aspectos, é esta predisposição ao bom humor. Talvez seja um traço africano, o mais importante traço africano na índole brasileira. O fato é que o brasileiro é refratário ao mau humor, e apresenta uma jovialidade diária, constante, quase inabalável, que torna a vida mais agradável e, sobretudo, evita os extremos a que pode conduzir uma má disposição. Tal leveza não se encontra na Europa, nem nas metrópoles americanas, e constitui um distintivo merecedor de maior apreciação. Contudo, se tal qualidade melhora a vida social e facilita imensamente o convívio, também é ela responsável pela aversão à reflexão profunda, algo muito bem atestado pela literatura nacional.
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Às vezes bate uma curiosidade de analisar…
Às vezes bate uma curiosidade de analisar a grade curricular de um curso de arquitetura, para tentar entender como foi possível essa regressão absoluta, indiscutível, escancarada nos resultados proporcionados pela evolução da técnica arquitetônica. A obsessão pelo baixo custo não parece suficiente para justificá-lo, posto não haver, mesmo nas cidades europeias, alguma em que a parte moderna seja visualmente superior à parte antiga. A arquitetura moderna é, resumidamente, mais feia e menos criativa. Que é isto, pois, que se ensina para que o profissional, com melhores recursos, produza algo expressamente pior?
Impressiona a facilidade com que a maioria…
Impressiona a facilidade com que a maioria das pessoas adota teorias, crenças, visões de mundo, novidades de toda espécie e começam imediatamente a professá-las. Uma percepção profunda e instantânea da verdade proferida não parece justificar a maior parte dos casos. Que dizer, então? Parece tal reação só justificável naquele desacostumado a encontrar sentido nas palavras, que finalmente se coloca em contato com um discurso que compreende. Seria só isso? Talvez, também, algo de uma inclinação inata para a repetição. Mas se, algumas vezes, tal inclinação pode mostrar-se frutífera, noutras tantas ela só escancara uma suscetibilidade gigantesca à manipulação.
É realmente difícil conciliar a paz interior…
É realmente difícil conciliar a paz interior com as demandas diárias que, imprevisíveis, às vezes parecem não objetivar senão destruí-la. Daí que se impõe a articulação de um plano consciente para sustentá-la, cuja ação primordial é relembrar-se de contínuo de sua necessidade. Pois o refúgio, a paz interior são bem isto: necessidades. Do contrário, não se consegue a sobriedade no pensamento e muito menos a tranquilidade necessária para a justa reflexão.