Estilisticamente, tolera-se muito…

Estilisticamente, tolera-se muito; mas esse vício de ocultar o que está sendo dito, de intencionalmente complicar o simples, só se tolera caso o esforço de interpretação premie; do contrário, o autor não consegue mais do que irritar. E o pior é ver a quantidade dos exemplos dessa prática, que para alguns passa por mérito, como se dizer obliquamente fosse criativamente dizer. É lamentável. A mesma linguagem, sublimada pelos grandes, rebaixa-se a refúgio para aqueles que não tem o que dizer.

Em literatura, é depois de se ter investido…

Em literatura, é depois de se ter investido horas e horas de esforço por muitos anos que se alcança o grau de comprometimento ideal. Antes disso, move-se mais por uma motivação que, grande ou pequena, caso cesse fará que se interrompa o desenvolvimento da vocação. Depois dessa fase, é sempre perante um trabalho monstruoso já realizado que o escritor irá se confrontar. Já não há volta, o que está feito impõe-se, e o necessário é simplesmente continuar.

A relação de alguns escritores com a doença…

A relação de alguns escritores com a doença é algo difícil de explicar. Uma pessoa normal, sem o menor desconforto, encontra as desculpas que precisa para não escrever. Se padece de alguma enfermidade, não há nem o que dizer. Então vemos não um, nem dois, mas muitos escritores que não apenas persistiram na doença por meses, anos, por uma vida inteira, mas fizeram da própria doença fonte de motivação. Não é pouca coisa, e não é algo fácil de imaginar. Há doenças com as quais nunca se acostuma; mas parece que, justamente estas, encurralam e não deixam outra opção.

Algum escritor, certa vez, deu a sensata recomendação…

Algum escritor, certa vez, deu a sensata recomendação: uma obra de cada vez. E, sem dúvida, concentrar o espírito em uma única produção só pode acelerá-la, intensificá-la, sendo assaz benéfico para a criação. Mas é possível ser fiel a esta regra? Fazendo prosa, talvez. Já com a poesia, a situação muda, e quando os versos planejados ultrapassam algumas centenas, a mente parece rogar por uma válvula de escape na qual possa despejar linhas e linhas e experimentar o alívio da fluidez. Sem esta válvula, em pouco a improdutividade, somada às ideias que se acumulam num depósito fechado, começam a torturar. Ao poeta, praticar a prosa parece psicologicamente essencial.