Para o artista iniciante, intimida o constatar-se precedido de dezenas de séculos e um número incalculável de outros artistas que efetivaram o que ele tão somente pretende fazer. Se adicionamos os críticos e teóricos da arte, teremos então uma infinidade de juízos, escolas, definições daquilo que é ou não é arte, é ou não é bom, deve-se ou não se deve fazer. Nisto, aquele que ainda luta para encontrar a expressão daquilo que sente ver-se-á bombardeado e dificilmente arriscará o primeiro passo, sendo mais cômodo calar-lhe a voz interior. A verdade, porém, é que o artista tem de assumir-se, e será tanto melhor quanto antes o fizer. Todo esse imenso passado, que encanta e intimida, deve ser aproveitado na medida em que lhe seja útil, e jamais deve configurar um obstáculo para a expressão daquilo que lhe pareça justo. É preciso coragem! E, ademais, personalidade para executar exatamente aquilo que quiser.
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O difícil, em arte, é aproveitar inteligentemente…
O difícil, em arte, é aproveitar inteligentemente as manifestações espontâneas que surgem durante o processo, inserindo-as na estrutura predefinida sem prejudicar o conjunto. Com frequência, os pontos mais altos de uma obra são oriundos de lampejos inesperados que o autor soube aproveitar. O todo, é certo, carece de ordem; e ordem não se faz de uma centelha que brota subitamente no espírito. Mas o artista, se surpreendido da ideia adventícia, fará muito bem transferindo-lhe este efeito surpresa para a obra. A arte ganhará.
Um exercício contínuo de paciência
A poesia, essa arte terrivelmente difícil, é um exercício contínuo de paciência. Não adianta: a pressa, em poesia, é sempre o erro. É um verdadeiro transtorno saber que, por um lado, é preciso se aproveitar das manifestações espontâneas, que brotam como rajadas e conferem grande potência aos versos; mas, por outro, é preciso deixar que os versos esfriem, solidifiquem, e então esmerá-los calmamente, ajustando o ritmo, trocando palavras, apurando a expressão. Dói sobremaneira a punhalada que é notar uma mácula originária da afobação. Todo um exaustivo trabalho, pois, conspurcado quando já não é possível repará-lo. Dele, ao artista, ficará somente a falha, somente a frustração. Por isso o labor poético é um exercício de autocontrole, de paciência, em que o poeta deve atuar também como estrategista, liberando e contendo-lhe os impulsos, suspeitando de si mesmo ainda quando concluirá que não havia de fazê-lo. E, ainda assim, não será suficiente…
Todo artista possui inclinações e deficiências
Todo artista possui inclinações e deficiências. Há temas que, por uma disposição inata, saem-lhe com naturalidade e brilho; já outros, apresentam-lhe dificuldades. Por isso, em primeiro lugar, é importante que o artista seja capaz de identificá-los e classificá-los. Em seguida, é necessário empenho para desenvolver-lhe justamente as debilidades, e isso se dá exercitando a representação daquilo que lhe é oposto, explorando formas, arriscando. Em arte, é certo, há escolhas; mas também há fraquezas, e estas, se não assumidas, a seu modo conseguirão sempre se entranhar como defeitos evidentes. Completo será, assim, o artista que através do esforço converter em força aquilo que lhe não é natural.