De forma intempestiva, ponho-me novamente a escrever roteiros cinematográficos. O trabalho do momento, que começava a engatinhar, é interrompido. E não sei o que sentir. Perspectivas, tenho poucas, seja lá o que esteja criando. Mas a facilidade em cuspir páginas de roteiro salta aos olhos quando comparada à agonia da criação literária. O roteirista vê-lhe o trabalho avançar, todos os dias, e encontra manifesta satisfação. Um roteiro, a bem dizer, vale-se pela estrutura, pela eficácia na distribuição das cenas dentro de um formato predefinido e pela força na exposição de um arco dramático. O roteirista debruça-se na demarcação estrutural do texto: define o conflito, sua progressão ao longo da trama e seu desenlace; então o distribui em cenas, com posicionamento e extensão em conformidade com o arco dramático e o formato da obra. Depois é só formalizar ou, melhor dizendo, transformar o diagrama em texto. Com personagens bem definidos, os diálogos brotam com facilidade espantosa, em infinitas variações. Decerto, são eles em grande medida adaptáveis, substituíveis: o roteiro, que não é senão o esboço de uma obra, vale-se pelo próprio esboço. E eu, de artista, torno à função de diagramador.
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Mero exercício de transcrição
A sensação de ser capaz de escrever infinitas páginas, somente transcrevendo a guerra psicológica permanente e seus capítulos intermináveis. Conflito implacável, aflição contínua, tranquilidade que quase nunca vem… Palavras do mestre oportunamente relembradas: “Toda a minha vida falei calando-me e vivi em mim mesmo tragédias inteiras sem pronunciar uma palavra”.
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A explosão de um conflito interior insuportável
Contraposta à representação de fenômenos externos, percebo a grande arte como a explosão de um conflito interior insuportável. Quer dizer: o artista imprime aquilo que o atormenta ou o objeto de seu desejo irreplegível. Obsessões psicológicas, sentimentos que o atacam violentamente… a grande arte é consequência de uma guerra interior. Exatamente por isso, é raro que se apresente como agradável. Intensidade nada tem que ver com paz…
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Rindo-me do que enfurece…
Reparo-me com enorme contentamento os desacatos à polícia da linguagem que, como a polícia dos costumes, pretende-se senhora da razão. Acho engraçado e orgulho-me da rebeldia. Sinto-me chegado, pois, dos crucificados que sempre me despertaram a admiração…
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