Grande parte dos obstáculos à criação são superados no momento em que se rompe a inércia; daqui em diante, o trabalho é mais corrigir, mais aperfeiçoar que propriamente criar — ou, ao menos, assim parece, o que dá no mesmo para a mente que trabalha. O movimento, após iniciado, confere uma fluidez que como induz, se não automatiza a sequência, tornando absolutamente mais fácil o prosseguir, em comparação com aquele medonho iniciar. É, portanto, forçar o início, para não se permitir jamais engolido pela inércia.
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Após assentar um processo criativo eficiente…
Após assentar um processo criativo eficiente, o que deve imediatamente fazer o profissional da criação é encontrar uma maneira de dar vazão às suas manifestações mentais espontâneas, ou melhor, deve encontrar uma maneira de transformá-las, mecanicamente, em algo artisticamente aproveitável, para que evite não somente o perdê-las, mas perder-se em meio à confusão de uma miríade de ideias imprecisas e desconexas, cujo mirá-las mais facilmente o conduzirá à paralisia do que à ação.
A superioridade de Tolstói e Dostoiévski
A superioridade de Tolstói e Dostoiévski sobre os demais romancistas não é a técnica e nada tem que ver com a técnica, o que demonstra que, em literatura, ela não prepondera sobre a motivação artística, esta sim a essência de uma obra. O que se nota nos romances de ambos é que, lendo-os, sentimo-nos inteiramente absorvidos pela narrativa e uma infinidade de ideias movimentam-se em nossa mente, mas nunca aquelas relacionadas aos artifícios da narração, que passam como despercebidos, a menos que nos proponhamos a exclusivamente analisá-los. São ambos superiores porque superiores são suas motivações.
A poesia silábico-acentual
No que tange à técnica poética portuguesa, a poesia silábico-acentual é e sempre será a mais difícil e mais requintada, não importando quantas inovações mais apareçam nem quão mais rara ela se torne. Sua dificuldade, só poderá compreendê-la aquele que se arrisque a fazer um punhado de versos observando-lhe as exigências que, se tornam o trabalho consideravelmente moroso, também entregam um resultado especial. Muito mais conveniente, sem dúvida, é deixá-la de lado e “inovar”. Mas quando se lhe vislumbra as possibilidades belíssimas, entende-se que, em português, não há técnica mais consistente e refinada, cuja boa aplicação eleva sobremaneira a força expressiva e a harmonia de uma composição.