Tão divertido quanto conscientemente violar todos e cada um dos ditames da nova polícia da linguagem é desagradável e penoso observar aqueles que a ela se curvaram. É divertido porque relembramos, a cada transgressão, do estúpido de tais ditames; e divertido porque manifestamos a nossa insubmissão à tolice. Quando, porém, acompanhamos o inverso noutra consciência, o que vemos é alguém que, por medo ou para agradar, sacrificou aquilo que lhe deveria ser o mais valioso: a liberdade. Menos que irritação, causa-nos pena observá-lo…
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Leva um tempo para que o artista descubra…
Leva um tempo para que o artista descubra que a melhor arte que pode fazer é aquela mais íntima, mais genuinamente sua, e não a mais aclamada pela crítica. Leva um tempo porque, ao principiante, parecerá disparatada a ideia de que deve buscar a autenticidade, quando é principiante e, portanto, tem de aprender e tem de ainda se encontrar. Daí que a imitação, em maior ou menor medida, é um caminho natural e proveitoso. Mas chega o momento em que a prática evidencia suficientemente aquilo que é e não é próprio. Então, fica também evidente que a imitação, se muito, é um trampolim para a grande arte, e que esta não pode ser feita senão com a substância daquilo que mais agita a consciência individual.
O maior incentivo à fecundidade
Talvez o maior incentivo à fecundidade literária seja o viver silenciosamente, evitando ao máximo jogar ao vento palavras que seriam muito melhor empregadas no papel. Ao vento, somente o trivial e de pouca importância. São inumeráveis as vantagens de tal postura, que contribui tanto à vida quanto à obra, deixando claríssimo aquilo que cabe a uma e a outra, separando-as e definindo-as, reforçando-as no como devem ser encaradas. Evita-se sobretudo o erro de tê-las pelo que não são, desvirtuando-as. Viver em silêncio, em suma, é saber o momento e o meio adequados para se dizer aquilo que se deve dizer.
Há, sim, uma satisfação experimentada…
Há, sim, uma satisfação experimentada ao término da penosa escrita de um livro que não se limita ao sentimento de que “finalmente acabou”. Quando se está há algum tempo nesta rota, e o voto já se encontra suficientemente justificado e afirmado e, portanto, o espírito já se afastou daquela empolgação pela novidade e pelo teste, cada obra que se concretiza é um passo adiante em direção ao objetivo primário, responsável por motivar a decisão de escrever. Esta, quando deliberada, tão somente vislumbrava os possíveis resultados que, paulatinamente, a cada obra escrita, se vão enfim materializando e efetivando o plano inicial. Assim, experimenta-se o finalmente mas experimenta-se, também, a sensação de que menos se fantasiou.