Não adianta: ou se valoriza o que há de penoso no passado, ou pouco dele se poderá aproveitar. O tempo não retorna, e menos ensina o que menos esforço exige para absorver. Ali onde machuca reside uma oportunidade, e só se aproveita o passado quando se assimila o paradoxo de reconhecer nele a identidade presente ao mesmo tempo que se aceita a parcela do que era, mas já se foi.
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Talvez não se possa tirar da vida…
Talvez não se possa tirar da vida lições mais valiosas que aquelas provenientes de uma angústia intensa e prolongada. O momento em que esta é finalmente superada constitui um marco, porque geralmente envolve um esforço interno incomum. Dá-se então o esforço e a catarse. A tensão alivia, brota um sentimento positivo, mas o ocorrido não se esquece: permanece como vivo e autêntico aprendizado, pelo qual sentiu-se na pele o encargo de aprender.
Há algo maravilhoso nestes frequentíssimos…
Há algo maravilhoso nestes frequentíssimos lampejos experimentados na imediação da morte, que brotam como que esclarecendo a vida inteira, acompanhados de uma lucidez inédita — inédita, exatamente antes de morrer! Racionalizar o fenômeno é inútil, mas decerto algo se passa quando enfim se fecham os eventos de uma vida, quando se pode conectá-los agora que concretizados, e se pode inferir um sentido final. Isso, percebe-o mesmo o observador externo; mas vivê-lo e senti-lo, esse algo intraduzível que transforma e convence, que pacifica e esclarece, é pena que, tardando, nos outros não se pode muito mais do que admirar…
Carregar uma dúvida por anos…
Carregar uma dúvida por anos é virtude que poucos possuem, e que pouquíssimos aprendem a cultivar. E parece que, sem ela, não se forma um verdadeiro intelectual. A dúvida é uma oscilação e também uma abertura, pelo que se difere da certeza, a qual geralmente incorre no encerramento da questão. Se sustentada por um interesse sincero, a dúvida estimula, e a atividade decorrente é às vezes mais benéfica que o encontrar uma possível solução. A confrontação dialética é a base de qualquer conhecimento de valor; e parece que, estranhamente, o estender da primeira valoriza muito aquilo que se pode conhecer.