Quando se segue a recomendação de Ortega y Gasset, de Viktor Frankl e de Louis Lavelle, os quais, sob prismas diferentes, ressaltam a importância de buscar a integração da circunstância individual no plano da existência, o ato adquire, decerto, uma solidez extraordinária, e a vida embebe-se de seriedade. Mas há, aqui, um problema inevitável, o de que às vezes a circunstância é tão miserável e deprimente, que sua assimilação chega a ser perigosa. Quer dizer: aquele que deseja mirar e compreender a realidade crua, se tomado por este senso de responsabilidade perante a circunstância, não pode fazê-lo jamais como um observador distanciado e imparcial. O que chama para si é aquilo que sofre, o que busca integrar é aquilo que o estorva, pressiona, deprime. O que faz é o contrário da vereda racional do distanciamento, e esta tarefa nunca é empreendida sem deixar profundas marcas no caráter. O resultado pode não ser nada bom…
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O desconforto espanta a futilidade…
O desconforto espanta a futilidade com uma eficácia tão absoluta que, muitas vezes, sua chegada revela-se providencial. Sem ele, quantas empresas não seriam preteridas, quantas decisões não seriam jamais tomadas, quantas biografias deixariam de ser? Assim que se tem de valorizá-lo enquanto elemento motivante, em vez de ceder ao impulso mais corriqueiro de reclamar. Quando se lhes analisa as obras, quer em abundância, quer em qualidade, o desconforto submete completamente o conforto.
Se o que distingue o ser é o ato…
Se o que distingue o ser é o ato, e o que caracteriza o ato é a escolha, é preciso repetir mil vezes que o indivíduo sempre se torna as escolhas que faz, e que a sabedoria se resume a saber escolher. O problema é que a escolha, enquanto elemento unificante, é menos uma decisão que uma prática perene, de forma que, sem esta continuidade, desfigura-se, chegando mesmo a se anular. Escolher, portanto, envolve decidir e manter-se fiel à decisão.
Não há negar que, a despeito de tudo quanto…
Não há negar que, a despeito de tudo quanto se pode dizer das conclusões esboçadas por Hegel, sua compreensão dos processos componentes e condutores da realidade, isto é, sua dialética, é de uma lucidez e de uma acuidade impressionantes. Porque para onde quer que voltemos os olhos, um exame aprofundado mostrará que uma ação histórica efetiva suscitará necessariamente sua antítese e terá um resultado diverso de sua intenção. Esta dinâmica, às vezes de dificílima compreensão, equaciona notavelmente a presença fatal do imprevisível, e nos força a tê-lo sempre em vista em qualquer processo. Acostumar-se ao ambíguo e ao complexo é, enfim, colocar-se mais próximo do real.