Escolher um caminho é, sempre, não escolher todos os demais, e é isso que o torna especial. A escolha, pois, escolhe e abdica, e sustentá-la envolve tanto a valorização do caminho escolhido, como a aceitação do afastamento daqueles que se não escolheu. Muitos não o suportam, como também não suportam que viver é escolher. Porém, gostando-se ou não, deixar de escolher é também uma escolha, e colhe-se de todo modo os frutos desta decisão.
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É preciso ter alguns fios brancos…
É preciso ter alguns fios brancos na cabeça para maravilhar-se de contínuo com a confluência inefável de fatores que concorrem aos lances determinantes de uma vida. Quando analisamos, por exemplo, as experiências catárticas tão marcantes na obra de Dostoiévski, percebemos que, conquanto descritas com máxima habilidade, conquanto transmitam fortemente uma ideia da complexidade que as envolve, é impossível ao escritor esgotá-las, é impossível que simplesmente as descreva completas. Porque elas aparecem como pontos para os quais convergem o indivíduo inteiro, sua mente e sua biografia, seus atos e suas omissões. E se há o trauma, se há a liberação, se há o renascimento, todos eles se apresentam concentrados, indissociáveis, como uma coisa só.
É a mudança que dinamiza a vida
É a mudança que dinamiza a vida e, justamente quando mais indesejada, demonstra seu maior potencial. O desejo de estabilidade, naturalíssimo, é também em grande medida o anseio por conforto. Sendo este, porém, improdutivo, também o acaba sendo a resistência intransigente à mudança. É verdade que, algumas vezes, esta aparece forçosa, e não se dá sem lágrimas e dor; mas é preciso assimilá-la, é preciso crescer assimilando-a, e terminar com um sorriso de aceitação.
A doçura, quando vista, desarma
Lavelle está certo quando diz que “de toutes les vertus de l’âme, la douceur est la plus subtile et la plus rare”. A doçura, quando vista, desarma, e quando praticada, faz um indescritível bem. E por ser rara como é, é facílimo para o homem esquecê-la, e naturalíssimo não praticá-la. E mesmo que, num lance, seja por ela iluminado, terá de se esforçar muito para relembrar-se desta experiência que, como todas as outras, o tempo se esforça para dissipar. Mas é preciso que se esforce, é preciso que se lembre todos os dias de como esta fina virtude, às vezes manifesta por uma palavra, por um gesto, por um olhar, é a mais efetiva para que se aflore um sentimento bom.