Exigências da formação intelectual

A formação intelectual exige, fundamentalmente, duas tarefas: estudar os grandes autores, e estudar autores com visões de mundo radicalmente conflitantes. De início, o óbvio: é questão de respeito à própria inteligência brindar-se com os grandes. Os clássicos devem ser lidos, estudados, absorvidos, integrados à personalidade de quem se pretenda intelectual. Então, com a base assentada, é possível almejar evolução. O passo seguinte é transformar a mente num violento campo de batalha. O intelectual precisa, necessariamente, do conflito, do choque de ideias: só assim é possível progredir. Ler autores conflitantes é entender a complexidade da vida, as variações nos mecanismos de percepção, é reconhecer e aceitar o ambíguo. Mais: conversar com mentes díspares, se sinceramente, não só alarga o conhecimento como impõe a humildade, escancara méritos onde dizem não havê-los, em suma, engrandece. Por isso é forçoso conviver, lidar com opostos, abandonar prejulgamentos, libertar-se das correntes do pensamento. O caminho contrário é repetir o conveniente, denegar as contradições e jamais evoluir. Deixar que as ideias rebentem livremente é deixá-las, à força, arrastar a mente à inteligência.

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Vencer ou sucumbir à morte

Parece, no fim de todos os tormentos, resumir-se a vida na seguinte questão: vencer ou sucumbir à morte? E a resposta, que não é senão a própria obra, entrega um tormento adicional (tormentos… nunca se esgotam!): o vencer a morte aparenta dependente de um fator externo incontrolável e sujeito à incerteza, ou seja, sujeito ao fracasso mesmo que injusto. Quer dizer: a maldita fortuna, ainda no fim de todas as coisas, ainda após todas as provações e mesmo que após respostas formidáveis, parece ter influência decisiva. E assim o impulso a amaldiçoar a vida afigura-se como irresistível.

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O embate entre vaidade e consciência

Algumas naturezas chegam a impressionar pela ausência completa do embate entre vaidade e consciência. Talvez pela própria tibiez da consciência, o que justifica vê-la absolutamente ignorada pelas correntes mais populares da psicologia. Em alguns, ela parece simplesmente se não manifestar. Mas incrível pensar em alguém que, nem uma única vez na vida, orça a mesquinhez da própria conduta, dos motivadores da própria “vontade”. Fazê-lo e não proceder com a condenação seria compreensível, mas o fato é que, na maior parte das pessoas, não há o menor vestígio do conflito.

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Uma confissão, de Liev Tolstói

Engraçado como basta uma única página para perceber-se diante de uma alma grandiosa. Qual a diferença do grande escritor para o escritor mediano? Deixando de lado a estética, o grande escritor aborda as grandes questões da vida. E Tolstói, neste ensaio denominado Uma confissão, mostra por que está entre os maiores escritores de todos os tempos: reconhece e encara de frente os maiores problemas humanos. Por que viver, se a vida trata de destruir tudo quanto existe? Por que realizar qualquer esforço se o final é invariavelmente o nada? Como não considerar a vida como o mal supremo, posto desaguar sempre em doença e mortificação? Há alguma coisa que a morte não destrua? Como aceitar o fado, ou antes: como interpretá-lo? Essas e outras questões preenchem as poucas páginas desta obra magnífica, como tudo o que tive contato proveniente da pena desse gênio. Basta uma página, repito, uma página de Tolstói para entender que a grande literatura jamais será somente sobre contar uma boa história — isso também faz a literatura shallow. A grande literatura é sequiosa da réplica à pergunta atormentadora: Por quê?

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