Ideias venenosas

Tenho algumas ideias bastante venenosas, por exemplo, esta: só atingirei a plenitude no dia em que não souber dizer o nome do presidente do meu país. Confesso, tenho-me esforçado: já não leio notícias quaisquer, não ligo uma televisão há anos, não sei dizer quem é o atual vice-campeão brasileiro e outras façanhas. Mas sei que a plenitude, a paz de espírito e a sabedoria só virão no dia em que me perguntarem: Em quem votaste para senador? Que pensas do novo projeto de lei? Que achaste da nova composição ministerial? E para todas estas eu não responder senão com um sorriso sarcástico na face.

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Diplomas e conhecimento

Acho graça do culto ao diploma. Minha mente voa… Fico imaginando daqui a quanto tempo exigirão diploma para atletas: “Rapaz, antes de bater o recorde mundial dos 100 metros rasos, vá atrás do teu diploma de velocista!”, ou para padeiros: “Não, não… isso que fizeste não é um pão. Para fazer um pão precisas, primeiro, de um diploma de padeiro”. Acho graça porque claramente o sistema de ensino brasileiro colapsou, enquanto há gente a que agrada humilhar os outros calcando-se em diplomas. Hoje, um diploma não vale muita coisa… Qualquer um forma-se, qualquer um compra um diploma. Sumariamente, a diferença de um engenheiro para um cobrador de ônibus, hoje, é o bigode. E tenho um diploma de engenharia escondido em algum lugar de minha casa; falo, pois, com a autoridade de um diplomado que um diploma não tem relação necessária com conhecimento, somente diz que o diplomado obteve média na somatória de provas e trabalhos e compareceu na frequência mínima exigida pela instituição. Conhecimento é outra coisa.

Natureza…

Não sou um entusiasta da natureza. (Pedras!) Sei que, para muitos — todos? — a palavra natureza inspira uma paisagem silenciosa, pura como uma fresca nascente a deitar no tranquilo ramalhar das árvores sob o brando movimento das águas. A mim, não. Quando penso em natureza, minha mente associa — e me não pede permissão! — primeiramente, à imagem de uma mata fechada; em seguida, à sensação de meus pulmões sendo insuflados de ar puro e, bruscamente, ouço um zunido insuportável de mosquitos, que se transforma no silvar agressivo de uma cascavel. Assustado, sinto um arrepio. Sim, sim: minha casa é a poluição e o cinza.

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