Julgamento: ato insuportável!

Nada me é mais insuportável que o julgamento! Como, desde há muito, percebi que não posso deixar de fazê-lo — ainda que de forma impessoal, — aprendi a cultuar o silêncio. Silêncio que, a aparentar exteriormente a paciência e serenidade, implica uma interminável guerra interior. Odeio o julgamento e, ainda assim, julgo o tempo inteiro. Aniquilo-me quando me vejo a condenar condutas, e condeno todas, principalmente a minha. Pudera eu enforcar esses rompantes terríveis do juízo! Mas não há fim, nem sossego, e considero-me vitorioso por conservar um aspecto mínimo que remeta à humanidade.

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Cura da velhice

Acompanho com muito entusiasmo as novidades científicas a respeito da cura para a degeneração das células. Sonho com o dia em que será possível comprar um comprimido — ou uma goma de mascar, talvez… — capaz de evitar o envelhecimento, mantendo o corpo saudável e no auge da forma para sempre; assim, só uma fatalidade poderá tirar a vida de um ser humano. Pois bem. Sonho com esse dia para usar da volição que me resta e dizer: essa agulha jamais me espetará! pertenço a uma casta que esmorece em vida e desintegra mastigada pelos vermes!

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Saída obrigatória

O niilismo é a saída obrigatória para quem percebe o avassalador vácuo de sentido num mundo onde as autoridades únicas, a ciência e o Estado, não serão jamais capazes de preenchê-lo. Minto: há a arte; mas esta, em verdade, é rota incerta e impenetrável.

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