Quando analisamos estes rompimentos inevitáveis…

Quando analisamos estes rompimentos inevitáveis, que se nos afiguram como necessários e impostos pelo destino, mas que deixam, perpetuamente, uma recordação positiva, doce e saudosa, ficamos a pensar naquele comovente poderia e em como, muitas vezes, parecemos reféns de uma força maior. Daí que seria realmente maravilhoso houvesse a dita eternidade, e os ditos reencontros noutros planos, noutras circunstâncias despidas da imperiosa força do necessário operante nesta terra, tal como asseverado pelo espiritismo. De toda forma, enquanto aqui se vive, o melhor a fazer com tais recordações é guardá-las e deixá-las como estão, não cedendo ao impulso de revivê-las e, muito provavelmente, maculá-las.

A radical decisão de Cioran

Vem à mente a radical decisão de Cioran que, banindo o idioma materno da mão e da língua, prometeu-se jamais ganhar a vida senão pela pena, isto é, jamais trair a vocação reconhecida para ganhar mais dinheiro noutra ocupação qualquer. O resultado foi uma óbvia e permanente ausência de conforto, para dizer o mínimo de um escritor que isolou-se num cubículo alugado, sustentando-se através de uma como esmola e alimentando-se num refeitório popular, quando o intelecto o permitiria possibilidades infinitamente superiores. Tudo isso parece sugerir que faz bem sempre nos perguntarmos mentalmente antes de abrir um livro: de quanto este senhor abriu não para escrever?

A desilusão é sempre proporcional à expectativa

A desilusão é sempre proporcional à expectativa. Dizê-lo talvez seja platitude desnecessária, mas a verdade é que é preciso uma força incrivelmente grande para frear os grandes e imponderados sonhos, nos momentos em que estes aparentam plausíveis. Não o fazendo, arrisca-se às também incrivelmente grandes decepções que se lhes decorrem, cujo risco talvez justifique tal platitude ser repetida até que o cérebro se convença de que, muitas vezes, o melhor a fazer é não sonhar.