A inteligência principia com a capacidade…

Se, como está dito, a inteligência principia com a capacidade de maravilhar-se, decorre também que quanto mais se dissemina a noção de normalidade, mais difícil é para que a inteligência se manifeste. Quer dizer: a começar pelo próprio universo, passando pela natureza, pela sociedade até culminar nos detalhes do cotidiano, mirar tudo isso e tê-los como naturais, corriqueiros, em vez de espantar-se da sucessão extraordinária de fatores necessários para gerá-los, é mesmo coibir a manifestação do intelecto.

Há coisas que só se aprende cedendo…

Há coisas que só se aprende cedendo, e só se aprende obrando pelo interesse alheio, coisas cujo valor aumentou sobremaneira por rarearem modernamente. Melhor que aprendê-las, contudo, é recordá-las pela prática mencionada, suplantando a armadilha de compreender uma realidade pobre em razão de compreendê-la somente na parte que se acha em torno de si.

A abordagem de Ortega y Gasset para o problema…

A abordagem de Ortega y Gasset para o problema da circunstância é um dos lances mais lúcidos da filosofia moderna. Quer dizer: a noção de que não há revoltar-se contra ela, mas integrá-la, ou ao menos esforçar-se de contínuo por integrá-la na personalidade, algo que não se dá senão aprendendo aquilo que ela tem para ensinar. Tal problema, em verdade, intensificou-se à medida que se popularizou o voltar os olhos para dentro, um ato que, se radicalizado, acaba por repudiar a realidade exterior. Acontece que este repúdio nunca alcança os efeitos desejados, resultando apenas em distúrbios e conflitos sem solução que não passe pela aceitação de que a circunstância é, sempre, elemento inalienável do ser.

Condição e necessidade

Viver é estar em condição de fazer algo, mas é também a necessidade de fazê-lo, o que é racionalmente confirmado e admitido pela escolha de continuar vivendo. Só se vive porque é preciso agir, e sem essa noção primária nada de verdadeiramente grande se pode fazer.