Há sempre algo muito positivo…

Há sempre algo muito positivo nestas situações extremas e incontornáveis, que forçam a tomada de decisão. Tais momentos escancaram, primeiramente, a coragem e a covardia perante a necessidade de decidir; depois e sobretudo, as prioridades, que se estavam antes mascaradas por qualquer motivo, agora já não se podem camuflar, e a anterior astúcia ou indecisão subitamente desaparecem, tomando-lhes o lugar uma inequívoca e impreterível escolha que se impõe prenunciando as consequências que acarretará.

Nada é mais destrutivo para a consciência…

Nada é mais destrutivo para a consciência que a prática diária do ato esvaziado de sentido, cujas consequências não são experimentadas por aquele que o executou. O distanciamento da realidade resultante é tão extremo que acaba por anular a noção do indivíduo, anulando consigo a moral e a possibilidade de evolução. Não se reconhecendo, não se reconhece o outro, não se reconhece o passado, não se reconhece a vida. Desaparece, portanto, a necessidade de viver.

Nenhuma virtude pode florescer…

Nenhuma virtude pode florescer sem que haja este estranho e instintivo sentimento de dever e responsabilidade que a consciência faz sempre questão de manifestar. Curiosamente, a modernidade, massificando o homem, fazendo-o viver em cidades cada vez mais populosas, provendo-o de espaços e tarefas cada vez menores, não somente anulou tal sentimento, mas transformou-o noutro de insignificância. O homem moderno vive num espaço que não conquistou, dentro de uma casa que não construiu, gastando a vida em tarefas cuja finalidade real, se não ignora, saem desprovidas de sua marca pessoal. Não se pode admitir encargos para com aquilo que se experimenta desconexão.

Diante da possibilidade da morte próxima…

Diante da possibilidade da morte próxima, o homem comum desmorona, terrificado, e passa a comportar-se como um primata. Quer dizer: o medo lhe anula a razão e o faz parecer uma criança. Por isso e por outras, o medo da morte é o primeiro que há de ser vencido e é aquele cujo vencimento liberta, estimula e enrijece o espírito. Suplantá-lo é transformar-se e, de certa forma, é também suplantar todos os outros temores.