Nenhuma virtude pode florescer sem que haja este estranho e instintivo sentimento de dever e responsabilidade que a consciência faz sempre questão de manifestar. Curiosamente, a modernidade, massificando o homem, fazendo-o viver em cidades cada vez mais populosas, provendo-o de espaços e tarefas cada vez menores, não somente anulou tal sentimento, mas transformou-o noutro de insignificância. O homem moderno vive num espaço que não conquistou, dentro de uma casa que não construiu, gastando a vida em tarefas cuja finalidade real, se não ignora, saem desprovidas de sua marca pessoal. Não se pode admitir encargos para com aquilo que se experimenta desconexão.
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Diante da possibilidade da morte próxima…
Diante da possibilidade da morte próxima, o homem comum desmorona, terrificado, e passa a comportar-se como um primata. Quer dizer: o medo lhe anula a razão e o faz parecer uma criança. Por isso e por outras, o medo da morte é o primeiro que há de ser vencido e é aquele cujo vencimento liberta, estimula e enrijece o espírito. Suplantá-lo é transformar-se e, de certa forma, é também suplantar todos os outros temores.
Já foi notado que grandes autores…
Já foi notado que grandes autores frequentemente emergem como reações a grandes crises sociais, e que mais estimulante é o ambiente agressivo que aquele pacato, controlado, inofensivo, que não ameaça diretamente o autor e que, portanto, não promove senão inércia. Tudo isso está correto; mas falta notar que, para que a reação aconteça, é preciso haver uma educação que possibilite o notar-se a dimensão da crise, isto é, é preciso que o autor tenha claríssimos em mente os fundamentos precípuos de uma civilização, algo que lhe exige, sobretudo, distanciar-se daquela em que vive para que possa usá-la como elemento de comparação.
O que costuma passar despercebido
O que costuma passar despercebido é que o ser frequentemente não é senão esforçar-se por ser de contínuo, não é senão manifestar o querer ser pelo ato, e pelo mesmo ato positivar aquilo que se quer. Salta aos olhos esta verdade ingente que, por incompreendida, faz com que haja tantos projetos de vida malsucedidos, tantos espíritos que se perdem à espera de um milagre que, decerto, não ocorre sem suor e ação.