A solidão, em si mesma, está longe de ser um mal. O que nela há de ruim é a ausência de boas companhias e bons exemplos, tantas vezes determinantes numa formação. É verdade que, em certa medida, é preciso uma inclinação para suportá-la de bom grado; mas, mesmo para aqueles que a possuem, não se pode desprezar quanto perdem em não se poderem rodear de influências que, naturalmente, inevitavelmente, torná-los-iam melhores. Em casos mais extremos, esta ausência produz resultados lastimáveis.
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Ao menos uma lição se pode tirar dos céticos…
Ao menos uma lição se pode tirar dos céticos: apegar-se apaixonadamente a uma crença é quase sempre uma tolice; o melhor é, sempre, a serenidade, perante as dúvidas e perante as certezas. Apegar-se é frequentemente fechar-se, adicionando à crença um sentimento que o tempo amplifica, até um ponto em que, à menor contrariedade, exibe-se uma reação violenta. Afinal, manifesta-se não o conhecimento, ainda que presente, mas somente a emoção.
O homem que necessite compreender…
O homem que necessite compreender a realidade e compreender-se para empreender uma tentativa de integração será, mesmo, um estranho. E mais se achará estranho quanto mais compreenda da realidade e de si, quanto mais se convença de que o que sabe é pouco, e que não pode aceitar a realidade apenas porque ela é. Ao mesmo tempo, será assaltado de todas as direções em razão de sua incapacidade para a adaptação passiva, e acabará estigmatizado por ser o que é. Enfrentará, assim, grandes e singulares dificuldades por não conseguir se livrar de sua predisposição. Apenas com sorte, o mundo lhe parecerá menos que hostil. E apesar de tudo isso, e a despeito de quanto enfrente e de quanto sofra, a infelicidade lhe só será garantida e completa caso deixe de cumprir o seu dever.
Mais impressiona do que esta necessidade…
Mais impressiona do que esta necessidade permanente de orientação, tão característica dos filósofos, que os conduz a uma investigação que só termina com a morte, é o fato de que, muitos, tão logo a empreendem, satisfazem-se com as respostas que encontram e, tranquilamente, deixam de investigar. Quer dizer: o conhecimento que, como sabido, quanto mais cresce, mais escancara o desconhecido, e portanto mais levanta perguntas, mais instiga o estudo, mais amplia o campo de investigação, nalgumas mentes não gera efeito semelhante. É muito difícil não recorrer a uma predisposição para justificá-lo, e validar a observação de Ortega y Gasset de que um filósofo é, simplesmente, aquele que não pode ser outra coisa.