Se o que distingue o ser é o ato…

Se o que distingue o ser é o ato, e o que caracteriza o ato é a escolha, é preciso repetir mil vezes que o indivíduo sempre se torna as escolhas que faz, e que a sabedoria se resume a saber escolher. O problema é que a escolha, enquanto elemento unificante, é menos uma decisão que uma prática perene, de forma que, sem esta continuidade, desfigura-se, chegando mesmo a se anular. Escolher, portanto, envolve decidir e manter-se fiel à decisão.

Não há negar que, a despeito de tudo quanto…

Não há negar que, a despeito de tudo quanto se pode dizer das conclusões esboçadas por Hegel, sua compreensão dos processos componentes e condutores da realidade, isto é, sua dialética, é de uma lucidez e de uma acuidade impressionantes. Porque para onde quer que voltemos os olhos, um exame aprofundado mostrará que uma ação histórica efetiva suscitará necessariamente sua antítese e terá um resultado diverso de sua intenção. Esta dinâmica, às vezes de dificílima compreensão, equaciona notavelmente a presença fatal do imprevisível, e nos força a tê-lo sempre em vista em qualquer processo. Acostumar-se ao ambíguo e ao complexo é, enfim, colocar-se mais próximo do real.

A solidão, em si mesma, está longe…

A solidão, em si mesma, está longe de ser um mal. O que nela há de ruim é a ausência de boas companhias e bons exemplos, tantas vezes determinantes numa formação. É verdade que, em certa medida, é preciso ter inclinação para suportá-la de bom grado; mas, mesmo para aqueles que a possuem, não se pode desprezar quanto perdem em não se poderem rodear de influências que, naturalmente, inevitavelmente, torná-los-iam melhores. Em casos mais extremos, esta ausência produz resultados lastimáveis.

Ao menos uma lição se pode tirar dos céticos…

Ao menos uma lição se pode tirar dos céticos: apegar-se apaixonadamente a uma crença é quase sempre tolice; o melhor é a serenidade, perante as dúvidas e perante as certezas. Apegar-se é frequentemente fechar-se, adicionando à crença um sentimento que o tempo amplifica, até um ponto em que, à menor contrariedade, exibe-se uma reação violenta. Afinal, manifesta-se não o conhecimento, ainda que presente, mas somente a emoção.