A verdadeira personalidade

A verdadeira personalidade aparece quando se retira a máscara social. Muitos, por receio, passam uma vida inteira sem que possam assumi-la, ou sequer conhecê-la. Disso, o efeito mais evidente é a permanente insatisfação. Não há nada que, nesta vida, substitua o gosto proveniente da autenticidade; para experimentá-lo, porém, é necessário um ato de coragem, sempre disruptivo, de consequências, a curto prazo, o mais das vezes desagradáveis. Ocorre que, muito antes do que se espera, vai-se o choque inicial e sente-se como uma libertação de constrangimentos infinitos, todos eles decorrentes da infeliz tentativa de parecer aquilo que não se é.

A maturidade talvez se faça notar…

A maturidade talvez se faça notar por ser a fase em que se torna impossível começar uma empreitada e posteriormente abandoná-la, em que se pensa sempre no fim e aquilo que se faz é feito para que, se não termine num ponto previamente definido, perdure pelo resto da vida. É uma fase em que desaparece o ânimo pelo teste curioso e passa-se a agir com segurança e resolução. É uma fase, pois, em que se enxerga simultaneamente a motivação e o objetivo, só movendo esforços em prol daquilo que esteja em consonância com a natureza interior. Há homens que jamais a alcançam…

Os sábios não dizem tudo

Ainda outra de Maricá:

Os sábios não dizem tudo, nem o melhor que sabem: receiam com razão não serem compreendidos, mas perseguidos.

Se assim é, temos de reconhecer os sábios como uma casta especial dentre os covardes. Não, senhor marquês, de jeito nenhum… O sábio, se converte-se em homem das letras, tem de afastar qual medida primeira e imediata qualquer sinal de temor. Ser-lhe-á imperdoável o medo de perseguição a partir do momento em que se colocar a escrever, isto é, a partir do momento em que sua maior virtude se resumirá a ter coragem e sinceridade diante do papel. Se temer a perseguição, é porque não é sábio o suficiente para entender o valor das letras, que lhe dignifica o esforço e o permite justamente se alhear do tempo e converter sua mensagem em relíquia indestrutível, pujante e refratária a perseguições.

Fatigados da intriga…

Mais uma de Maricá:

Chegamos a uma idade em que, fatigados da intriga e trapaçaria humana, preferimos o retiro à companhia e sociedade dos homens.

Esta ventura, com sorte e idealmente, tem de ocorrer antes dos trinta, quando menos se perdeu e mais se tem a ganhar. Após esta idade, a falta de vivência cobra um preço demasiado alto… São muitas as ilusões toleráveis, e até benéficas que se pode carregar no curso de uma vida; a ilusão com os homens, porém, quanto antes erradicada, melhor.