É verdade que o estudo muitas vezes desvenda a complexidade de matérias as quais o homem comum nem suspeita serem complexas. Essa descoberta, contudo, embora com justeza possa reclamar cautela, jamais deve ter efeito paralisante sobre o espírito, que afinal terá de se decidir. O mesmo ceticismo empregado por alguns como ferramenta indutiva da melhor escolha, é por outros empregado como escudo — eficacíssimo — para uma inata incapacidade de escolher.
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Há sempre algo muito positivo…
Há sempre algo muito positivo nestas situações extremas e incontornáveis, que forçam a tomada de decisão. Tais momentos escancaram, primeiramente, a coragem e a covardia perante a necessidade de decidir; depois e sobretudo, as prioridades, que se estavam antes mascaradas por qualquer motivo, agora já não se podem camuflar, e a anterior astúcia ou indecisão subitamente desaparecem, tomando-lhes o lugar uma inequívoca e impreterível escolha que se impõe prenunciando as consequências que acarretará.
Nada é mais destrutivo para a consciência…
Nada é mais destrutivo para a consciência que a prática diária do ato esvaziado de sentido, cujas consequências não são experimentadas por aquele que o executou. O distanciamento da realidade resultante é tão extremo que acaba por anular a noção do indivíduo, anulando consigo a moral e a possibilidade de evolução. Não se reconhecendo, não se reconhece o outro, não se reconhece o passado, não se reconhece a vida. Desaparece, portanto, a necessidade de viver.
Nenhuma virtude pode florescer…
Nenhuma virtude pode florescer sem que haja este estranho e instintivo sentimento de dever e responsabilidade que a consciência faz sempre questão de manifestar. Curiosamente, a modernidade, massificando o homem, fazendo-o viver em cidades cada vez mais populosas, provendo-o de espaços e tarefas cada vez menores, não somente anulou tal sentimento, mas transformou-o noutro de insignificância. O homem moderno vive num espaço que não conquistou, dentro de uma casa que não construiu, gastando a vida em tarefas cuja finalidade real, se não ignora, saem desprovidas de sua marca pessoal. Não se pode admitir encargos para com aquilo que se experimenta desconexão.