Aquele que quer ensinar

Aquele que tem algo a ensinar e quer ensinar precisa compreender que, para efetivar seu desejo, é necessário que haja, também, alguém que queira aprender. É este um fato: o melhor professor não é capaz de suplantar algumas das barreiras possíveis de serem levantadas por um mau aluno; já o bom aluno consegue aprender algo mesmo do pior professor. Disso se percebe que o aprendizado, em suma, é dependente mais do aluno que do professor, limitando-se este a facilitá-lo ou dificultá-lo, estimulá-lo ou desestimulá-lo. Assim é, não importando quão grande seja a vontade ou o conhecimento do professor.

Uma exposição lógica cristalina

Ocorre algo inexplicavelmente engraçado quando nos deparamos com uma exposição lógica cristalina, perfeita e irrefutável, que não exerce nos ouvintes o mesmo brilho e encanto que radia da palavra do expositor. Vem à mente Tomás de Aquino… Que dizer? Infelizmente, a lógica só pode impressionar aqueles acostumados a praticá-la ou, no mínimo, aqueles capazes de compreendê-la. A obra de Tomás de Aquino é uma realização impossível. As provas que apresenta, por exemplo, sobre a necessidade da existência de Deus, não poderiam ser melhor ou mais logicamente formuladas, nem expostas com maior clareza por uma cabeça humana cujo instrumento expressivo é a linguagem. E, ainda assim, são inúteis, absolutamente inúteis e ocas à maioria dos mortais.

Duas posturas básicas

Duas posturas básicas resumem o homem em sua atitude para com a vida: a de vítima e a de agente criador. Delas vemos reflexos infinitos na filosofia, na historiografia, na psicologia e na literatura. Entre ambas, não há conciliação possível, posto que o querer criar e o efetivamente criar nada tem que ver com o sucesso ou fracasso, o fato ou possibilidade, a ideia ou concretização. Tudo se resume a julgar-se paciente ou agente, a julgar sempre o que ocorreu ou como se pode reagir. Trata-se, portanto, de entrever ou não um campo de ação possível, que para alguns é tudo, e para outros inexistente. Entre ambos, mais uma vez, não há conciliação possível, especialmente porque aquele último tipo não suporta a postura do primeiro.

Só mesmo uma notícia funesta…

Só mesmo uma notícia funesta para restaurar a razão e colocar as expectativas em seu devido lugar… E todo o desleixo, todo o tédio e torpor para com a existência subitamente se dissipam, quando as circunstâncias compelem à percepção de que é da morte que deriva o sentido de todas as coisas, o senso de urgência, a necessidade de fazer. Então se escancaram o fútil e o importante, o verdadeiro e o falso, a razão pela qual se deve prosseguir com firmeza e resolução, deixando de lado tudo quanto seja ilusório e desvie daquele âmago sem o qual o melhor seria não existir.