O moralismo é o primeiro passo

O moralismo é o primeiro passo de uma trajetória intelectual que não se pode resumir ao moralismo. É preciso que o moralista dê um passo adiante, e supere as constatações provenientes da análise do mundo: ele deve transformar-se e despegar-se deste caso queira progredir. Mas é difícil concentrar-se em evoluir, superar, esquecer, colocando uma pedra sobre aquilo que um dia mereceu atenção; o fazê-lo parece como uma traição à própria natureza, uma negação do passado e uma desvalorização daquilo que a mente produziu. Julgamentos errôneos, porém. A vida intelectual é justificável somente enquanto se movimenta, e o intelectual somente enquanto se permite criar.

Só é possível progredir espiritualmente…

Só é possível progredir espiritualmente e manter a tranquilidade quando as circunstâncias parecem forçar o oposto em se acreditando que ao homem sempre resta uma escolha, ainda que esta se dê como reação psicológica ou como postura interior. Ao contrário do que pode parecer a princípio, o determinismo não tranquiliza e não pode gerar senão angústia para com um futuro incontrolável que recairá sobre aquele que o considera razoável; portanto, o determinista se sente impotente diante de forças alheias à sua vontade. Bem diferente é o sentimento daquele que sabe que, independentemente de quanto lhe ocorra, haverá sempre a possibilidade de resposta.

É muito difícil não se deixar levar…

É muito difícil não se deixar levar pelo misticismo quando este oferece-nos respostas plausíveis para fenômenos que, de outro modo, não parecem haver explicação. Há, é claro, a opção sempre mais simples: negá-los e esquecê-los. Mas, para aqueles seja curiosos, seja atraídos por uma como necessidade vital de respostas, não há opção simples. A princípio, são os olhos abertos; e então a mente a digladiar-se por justificar aquilo que os olhos veem. Aqui o misticismo, posto que inaceitável rejeitar, simultaneamente, os olhos e a razão. O duro é ver que, nalguns casos, a solução mística não tranquiliza senão temporariamente

A vida seria mais justa…

A vida seria mais justa caso fosse possível planejá-la, ou melhor, caso soubéssemos antecipadamente sua extensão. Então que seria infinitamente mais simples balancear, com inteligência, a prudência e a ousadia, descolando de vez uma possível covardia da primeira e uma irresponsabilidade da segunda. É isso, de qualquer forma, um sonho infantil… e temos de viver no escuro, de forma que as próprias palavras prudência e ousadia muitas vezes esvaziam-se de sentido quando miradas em perspectiva: quer dizer, como taxar de prudente, por exemplo, aquele que poupa dinheiro na véspera da morte? Temos, repetindo, de viver no escuro, e isso significa que nosso desconhecimento pode simplesmente anular os efeitos de nossa razão.