Uma das maiores dificuldades inerentes da investigação da realidade é harmonizar a consciência da insignificância individual com a necessidade individual de agir. A primeira vem automática, quando se contrasta o tamanho e a complexidade do universo com as possibilidades daquele que o observa. Porém, admitindo-se o ser, admitindo-se o irrevogável do ser, tem de se admitir também um motivo, uma necessidade. Daí a conclusão: é-se quase nada, o que se faz é quase nada, mas é-se porque é força ser e fazer.
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A procrastinação, perante a consciência do dever…
A procrastinação, perante a consciência do dever, é uma infâmia. Envergonha e entristece. E, ainda assim, tão corriqueira… Parece que o vencê-la só se dá pelo hábito, o qual medra constantemente ameaçado pelo hábito contrário que, caso permitido, deveras envergonha e entristece. A consciência do dever, portanto, resulta numa tensão permanente, que parece suportável, e até dominável sem grande esforço, enquanto perdura o ciclo produtivo e a repetição parece mais simples que o interrompê-la. Procrastine-se uma vez, duas, e a situação muda completamente de figura…
O homem livre e o escravo
Lavelle faz uma interessante distinção entre o homem livre e o escravo, identificando o primeiro como aquele que faz coincidir a alegria com sua atividade mais habitual, e o segundo com aquele que as separa. Assim, o que os distingue é a satisfação naquilo que fazem, que extrapola as circunstâncias às quais estão submetidos. De tudo o que decorre desta visão, talvez seja isto o mais importante: às vezes, basta pouco para ser livre e, às vezes, é-se escravo sem saber.
A distinção mais evidente daquele…
Ainda outra de Lavelle:
Toute notre responsabilité porte donc sur l’usage des puissances qui nous appartiennent en propre. Nous pouvons les laisser perdre ou les faire fructifier. Ainsi notre vocation ne peut être maintenue que si nous restons perpétuellement à son niveau, si nous nous montrons toujours digne d’elle. Le rôle de notre volonté est plus modeste qu’on ne croit ; c’est seulement de servir notre génie, de détruire devant lui les obstacles qui l’arrêtent, de lui fournir sans cesse un nouvel aliment : ce n’est point de modifier son train naturel ni de lui imprimer une direction qu’elle a choisie.
A distinção mais evidente daquele que discorre seriamente sobre temas como vocação, felicidade e realização é utilizar palavras como responsabilidade, esforço e dever. A “vontade”, assim, jamais pode ser compreendida como inclinação ao agradável, ao deleitante, ao infantil prazer freudiano, mas somente como empenho efetivo na superação de obstáculos, como resistência que impede o indivíduo de deslocar-se do próprio centro, e não o faz senão o estimulando a ser aquilo que é.