Budismo é largar tudo e viver de esmolas

Tomaria o budismo integralmente como modelo de conduta caso o fazê-lo não incorresse em assumir um estado de dependência que a mim é intolerável. Budismo, à risca, é largar tudo e viver de esmolas. Disto a conclusão: se o livramento final exigir como passo obrigatório a sujeição completa a este mundo, ainda que temporariamente, nunca o experimentarei. É como se, desejando liberdade, fosse necessário, primeiro, submeter-se a pior e mais plena das escravidões. Pensando melhor, faço a correção: não tomaria o budismo integralmente porque, integralmente, qualquer coisa torna-se intragável.

Um processo evolutivo onde o falso perece

Se historicamente ocorre, como diz Thomas Carlyle, um processo evolutivo onde o falso repetidamente perece, é forçoso concluir que a sociedade está fadada a erigir e derrubar mentiras. Do contrário é perguntar: por que algo igualmente falso sempre sobrepõe-se à falsidade derrubada? Ou ainda: quantos milênios adicionais serão necessários para que o homem livre-se deste ciclo maligno? A nível coletivo, parece impossível qualquer esboço de solução.

Os efeitos sempre corruptores e opressivos da psicologia de grupo

Analisando os efeitos sempre corruptores e opressivos da psicologia de grupo, pode-se concluir que a honra exige a solidão — isto é, a recusa terminante em integrar qualquer coletividade. O pensamento coletivo é detestável, a imposição coletiva sobre o indivíduo infame. Mas o caminho é ingrato: há sempre um preço a pagar. A sociedade, com seu histórico vergonhoso de perseguição contra os rebeldes solitários, negando-os a possibilidade da recusa, submetendo-os sempre à sua tirania vil, não pode ser melhor definida senão como a manifestação espraiada do mal. Não espantaria descobrir que quem rege este mundo coloca defuntos para acordar dentro do caixão.

O que há de universal no ser humano

O que há de universal no ser humano são suas manifestações vaidosas, hipócritas e gananciosas. Isso hoje como ontem, e ontem como amanhã. Haveria exceções caso o ser não fosse atirado, via de regra, em situações de pressão e risco, quando é forçado a agir pelo instinto maliciosamente desenvolvido ao longo dos séculos e capaz de livrá-lo de desconfortos mais severos. O mundo lhe não permite a paz: caça-o e exige-lhe uma reação. E a reação, sempre, manifesta em vaidade, hipocrisia e ganância — o mecanismo de defesa que corrompe as almas e converte-se em vício. Por isso, faria bem a psicologia comportamental se utilizasse a filosofia moralista como dogma: contudo, se assim procedesse conduziria invariavelmente o estudante à depressão.