Cioran resumiu: “Mourir inconnu, c’est peut-être cela la grâce”. Voltaire já havia concluído: “Vivre et mourir inconnu”. Valéry, na mesma linha, nota que “peut-être, si les grands hommes étaient aussi conscients qu’ils sont grands, il n’y aurait pas des grands hommes pour soi-même”. Que dizer? O sucesso é um sepultador. Talvez seja a maior desgraça que pode recair sobre um artista; é o prenúncio da ruína. O sucesso afasta-lhe as profícuas noites amargas, o questionamento terrível e maravilhoso sobre o próprio talento. O sucesso rouba-lhe a solidão e ilude, jogando areia no fogo interior que incita ao estudo, à evolução contínua, ao aprimoramento da técnica, à necessidade de uma expressão mais plena. Mas pior, muito pior. O sucesso abre “possibilidades” e impõe ao artista uma “nova função”. Isso, de fato, é-lhe a morte.
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Só há humildade no silêncio
Só há humildade no silêncio, na abstenção, na recusa de potencialidades. Uma convicção externa, também, um julgamento da própria faculdade mental. Apenas busca convencer aquele que tem a si mesmo em grande estima. O ser humano confessa um crime, mas é incapaz de admitir, pelo silêncio, a fraqueza do intelecto. A loquacidade é, por isso, o sinal mais evidente da pouca sabedoria.
A razão tem de reconhecer que há uma infinidade de coisas que a ultrapassam
De Pascal:
A última tentativa da razão é reconhecer que há uma infinidade de coisas que a ultrapassam. Revelar-se-á fraca se não chegar a conhecer isso. É preciso saber duvidar onde é preciso, afirmar onde é preciso, e submeter-se onde é preciso. Quem não faz assim não entende a força da razão.
O homem moderno julga-se importante
O homem moderno tem esta distinção: julga-se importante. E corre a um psicólogo quando inconscientemente suspeita que não é. A depressão que sofre aos quarenta começa na infância e estende-se pela juventude, quando cresce bombardeado de mentiras, alimentando em mente uma falsa visão de si mesmo. Sorri porque a vida oferece-lhe maravilhosas perspectivas; “futuro” é-lhe sempre palavra auspiciosa; passa a acreditar. E, com os anos, tem de encarar severas frustrações. A culpa é da vida? É óbvio que não: a vida nada tem que ver com a presunção do animal! A vida é vítima de uma falsificação epidêmica, de uma incompreensão assustadora e de um aviltamento sem precedentes. Um jovem é treinado, como um cachorro, a dar determinadas respostas para “o que fará da vida”, respostas socialmente admiráveis, e aprende a enxergar o mundo sob uma ótica medíocre, valorizando aquilo que não tem valor. Começa errando a respeito de si mesmo e termina errando a respeito da vida.