Deve ser uma tarefa um tanto desagradável a do historiador que, dispondo-se a narrar a biografia do grande homem, não pode dela ocultar a ação sempre presente e sempre odiosa dos homens medíocres que o invejam e o tentam derrubar. E, afinal, parece não ter havido historiador a livrar-se deste encargo, visto que, para eximir-se de invejosos, o homem de talento teria que se não mostrar jamais. Algum destaque, dá-se o implacável provérbio japonês. Não há, mesmo, esforço maior do que aquele necessário para, conhecendo o mundo, não maldizê-lo; o otimismo refletido é uma tremenda e meritória obra intelectual.
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Cotejar o noticiário com os livros de história…
Cotejar o noticiário com os livros de história é algo extremamente educativo, por demonstrar absolutamente infundada essa sensação de premência, de que algo determinante está sempre a se passar. Quão pouco sobra destas ninharias! E nem é preciso valer-se da história: abrimos jornais de outros países, e verificamos a mesma inclinação, talvez demandada pelo marketing, de apresentar tudo como importante, enquanto nós, cá no fim do mundo, sequer conhecemos o grosso dos atores pintados como relevantíssimos. É, quase tudo, exagerado, quando o que realmente importa não se encontra em jornal nenhum.
Algumas biografias geram em nós…
Algumas biografias geram em nós, modernos, um efeito semelhante àquele que se experimenta quando, após aborrecer-se com alguma ninharia ou reclamar-se da vida, encontra-se um morador de rua. Porque, em verdade, justamente mendigos foram alguns dos nomes mais célebres da literatura universal — célebres, aliás, não pela condição material que tiveram, mas pela grandeza de suas obras. E então descobrimos como nos tornamos incapazes de suportar misérias, uma vez que, a nós, pouca coisa já incomoda muito, e uma fração das adversidades suportadas por tantos de nossos antepassados seria suficiente para nos liquidar. Ao menos, o constrangedor é proveitoso.
É um tanto curiosa a velada homogeneidade…
É um tanto curiosa a velada homogeneidade na ideia que se faz da evolução histórica no ocidente moderno, quando há enorme acessibilidade a historiadores já consagrados cujas obras desmantelam essa mesma ideia. Quer dizer: o sujeito proclama o que descobriu muito bem documentado em fonte confiável, às vezes em publicação que se deu há mais de meio século, e ainda assim é tido como louco, como inimigo e como criminoso. O consenso velado, por algum motivo, quer-se e perdura imune a determinadas obras. Mas é preciso notar que, pelo menos depois de Hegel, ser historiador tornou-se, em grande medida, ser também iconoclasta.