O Brasil imperial é marcado por um desfile…

O Brasil imperial é marcado por um desfile de personagens que, apesar de defeituosos, exibem sólidas e inegáveis virtudes. Tão numerosos os embates em que se percebe evidente, de ambos os lados conflitantes, o desejo sincero de acertar. Também numerosos os erros; mas, o que hoje impressiona, há arrependimento e retratação. Encontra-se a perfídia, encontra-se o interesse mesquinho, mas sobram exemplos de retidão e magnanimidade. Um painel, em suma, que os historiadores do presente não terão a sorte de apreciar.

O projeto de destruição histórica

No Brasil, o projeto de destruição histórica e corrupção da então incipiente identidade nacional logrou êxito invejável, e é modelo a ser imitado pelos canalhas que o futuro ainda há de conceber. De nossa parte, é muito difícil colocar em palavras a sensação de ter de recorrer a um sebo por um livro de história não reeditado há mais de meio século, um livro de história que, pela qualidade e pelo período histórico abordado, sequer encontra concorrentes, e mesmo assim encontrá-lo ali e só ali em aspecto lamentável, surrado quando não parcialmente destruído. Somos tomados por um misto de sensações e, em mente, vem-nos a imagem do autor, da seriedade de seu trabalho, da injustiça, da infâmia, de Deus… e permanecemos fixados nas ruínas que se mostram diante de nós.

O experimento comunista

Apesar de toda a extensa documentação a respeito do horror do experimento comunista sobre a terra, um horror tão absoluto que torna quase impossível uma investigação prolongada sobre o tema, visto que investigá-lo é deparar-se com relatos infinitos de privações, miséria, tortura, corrupção moral e aniquilamentos tão variados quanto a imaginação humana, é inacreditável notar que a palavra comunismo não só não desperta o terror condizente, mas a muitos é inócua e a outros ainda seduz. Este fato é uma exclamação tão acachapante que tem de, obrigatoriamente, ser evidência de uma profunda lição. A nível coletivo, o comunismo resumiu-se a uma carnificina que elevou a miséria a um patamar inédito; a nível individual, resumiu-se à degradação. Neste deplorável experimento, o que se viu foi o florescimento daquilo que há de mais traiçoeiro e selvagem, a expansão desenfreada da crueldade e da opressão; o indivíduo médio foi submetido a uma vida de miséria e privações involuntárias, espólio, tortura psicológica a níveis inconcebíveis, de forma que sua própria sobrevivência passou a ser condicionada à submissão. Fuzilamentos incessantes, sem motivo nem piedade, mas que, diante do cenário geral, mais pareceram um livramento aos fuzilados… E tudo isso, embora massivamente registrado, embora ao lado de um obituário infinito, parece inútil. Só há uma lição a se tirar: o homem é absolutamente incapaz de aprender.

Todo aquele cujo sonho é a implantação…

Todo aquele cujo sonho é a implantação de um totalitarismo ideológico padece, antes de tudo, de ignorância histórica. Se a falta de altivez o impede de mirar um pouco além do interesse imediato, um pouco de juízo o recomendaria não desafiar uma reação imprevisível e incontrolável. Mas a história, sempre, há de fazê-lo pagar, porque é infalível em apontar o totalitarismo como aspiração restrita a canalhas. O curso de uma vida é muito pequeno para as consequências que se lhe podem suceder, e se a ignorância histórica, por vezes, pode não comprometer a curto prazo, um pouco de paciência demonstra que, enfim, ela sempre compromete.