Nenhuma das injustiças de que Frei Vital…

Nenhuma das injustiças de que Frei Vital foi alvo durante sua breve vida parece comparável às inúmeras que, desde sua morte, são perpetradas por inumeráveis historiadores — e bons historiadores… Que dizer? De seus coevos, muito pouco: erraram e vários deles se arrependeram; erraram quase todos por defeitos menores, exageradamente amplificados pela pertinácia. Já os historiadores, como absolvê-los? O que temos, hoje, graças a um falseamento mil vezes repetido, é a imagem de um bispo desarrazoado, tomado pela impetuosidade típica da mocidade, a agir impulsiva e irrefletidamente, quando, em verdade, nos mais acirrados momentos de sua polêmica não se viu senão um homem probo, ciente de até onde um bispo pode transigir. O resto são mentiras, só plausíveis se ocultadas, como são nos livros de história, as verdadeiras circunstâncias que desencadearam esta famigerada “questão”.

O Brasil imperial é marcado por um desfile…

O Brasil imperial é marcado por um desfile de personagens que, apesar de defeituosos, exibem sólidas e inegáveis virtudes. Tão numerosos os embates em que se percebe evidente, de ambos os lados conflitantes, o desejo sincero de acertar. Também numerosos os erros; mas, o que hoje impressiona, há arrependimento e retratação. Encontra-se a perfídia, encontra-se o interesse mesquinho, mas sobram exemplos de retidão e magnanimidade. Um painel, em suma, que os historiadores do presente não terão a sorte de apreciar.

O projeto de destruição histórica

No Brasil, o projeto de destruição histórica e corrupção da então incipiente identidade nacional logrou êxito invejável, e é modelo a ser imitado pelos canalhas que o futuro ainda há de conceber. De nossa parte, é muito difícil colocar em palavras a sensação de ter de recorrer a um sebo por um livro de história não reeditado há mais de meio século, um livro de história que, pela qualidade e pelo período histórico abordado, sequer encontra concorrentes, e mesmo assim encontrá-lo ali e só ali em aspecto lamentável, surrado quando não parcialmente destruído. Somos tomados por um misto de sensações e, em mente, vem-nos a imagem do autor, da seriedade de seu trabalho, da injustiça, da infâmia, de Deus… e permanecemos fixados nas ruínas que se mostram diante de nós.

O experimento comunista

Apesar de toda a extensa documentação a respeito do horror do experimento comunista sobre a terra, um horror tão absoluto que torna quase impossível uma investigação prolongada sobre o tema, visto que investigá-lo é deparar-se com relatos infinitos de privações, miséria, tortura, corrupção moral e aniquilamentos tão variados quanto a imaginação humana, é inacreditável notar que a palavra comunismo não só não desperta o terror condizente, mas a muitos é inócua e a outros ainda seduz. Este fato é uma exclamação tão acachapante que tem de, obrigatoriamente, ser evidência de uma profunda lição. A nível coletivo, o comunismo resumiu-se a uma carnificina que elevou a miséria a um patamar inédito; a nível individual, resumiu-se à degradação. Neste deplorável experimento, o que se viu foi o florescimento daquilo que há de mais traiçoeiro e selvagem, a expansão desenfreada da crueldade e da opressão; o indivíduo médio foi submetido a uma vida de miséria e privações involuntárias, espólio, tortura psicológica a níveis inconcebíveis, de forma que sua própria sobrevivência passou a ser condicionada à submissão. Fuzilamentos incessantes, sem motivo nem piedade, mas que, diante do cenário geral, mais pareceram um livramento aos fuzilados… E tudo isso, embora massivamente registrado, embora ao lado de um obituário infinito, parece inútil. Só há uma lição a se tirar: o homem é absolutamente incapaz de aprender.