Embora a poesia bucólica possa, com razão, parecer chatíssima, por vezes intragável, o sentimento que articula é decerto autêntico e belo. E ainda que os versos cansem, quase sempre por se estenderem mais do que deveriam, faz muito bem meditar a imagem que deles brota. O mero imaginar a satisfação plácida e perene que se pode extrair de uma vida centrada na simplicidade e na comunhão com o meio é algo positivo, pois enriquece o imaginário com uma possibilidade tangível que o mundo quase sempre se esforça por esconder.
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Estilisticamente, tolera-se muito…
Estilisticamente, tolera-se muito; mas esse vício de ocultar o que está sendo dito, de intencionalmente complicar o simples, só se tolera caso o esforço de interpretação premie; do contrário, o autor não consegue mais do que irritar. E o pior é ver a quantidade dos exemplos dessa prática, que para alguns passa por mérito, como se dizer obliquamente fosse criativamente dizer. É lamentável. A mesma linguagem, sublimada pelos grandes, rebaixa-se a refúgio para aqueles que não tem o que dizer.
Em literatura, é depois de se ter investido…
Em literatura, é depois de se ter investido horas e horas de esforço por muitos anos que se alcança o grau de comprometimento ideal. Antes disso, move-se mais por uma motivação que, grande ou pequena, caso cesse fará que se interrompa o desenvolvimento da vocação. Depois dessa fase, é sempre perante um trabalho monstruoso já realizado que o escritor irá se confrontar. Já não há volta, o que está feito impõe-se, e o necessário é simplesmente continuar.
O líder mundial em homicídios
Parece impossível que não saia da literatura brasileira contemporânea as notas trágicas e a gravidade das quais historicamente careceu, agora que o país consolidou-se como líder mundial em homicídios. O contrário seria um atestado de morte para a literatura nacional. Se, ao menos relativamente, o Brasil foi poupado das grandes tragédias no passado, a realidade agora se impõe em forma de escândalo humanitário, de maneira tão violenta que apenas conscientemente o escritor pode ignorá-la. E ignorá-la, decerto, seria trair a sua profissão.