É preciso algum esforço para romper a superfície e apreciar a profundidade da motivação artística de Teixeira de Pascoaes. Superficialmente, as palavras são sempre palavras, e a poesia não passa de idealização. Mas se nos perguntarmos: “Que está por trás das palavras? que tipo de experiência as motivou?” — com algum esforço, algo se nos revela, e este algo, em Teixeira de Pascoaes, é bonito e sincero. Mas é algo difícil de ser experimentado, visto que o egoísmo trabalha continuamente para destruí-lo. Conectar o passado ao presente e, sobretudo, mirá-lo, ele e a existência inteira, com olhos benévolos, é algo que somente um grande espírito se habilita a fazer.
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É mesmo um milagre isto que frequentemente…
É mesmo um milagre isto que frequentemente se observa na construção de poemas, quando às vezes se troca uma única palavra, se apara esta ou aquela aresta, e um todo sem graça, repetitivo, banal, muda como que completamente de caráter, e a expressão, antes frustrada, parece enfim satisfazer a intenção inicial. A lição desta experiência é que o poeta deve prosseguir nos momentos em que a criação desagrada, deve esforçar-se por dotar o poema ao menos de uma estrutura coesa, estrutura fundamental para que os brilhantes e às vezes inesperados detalhes possam sobressair.
A boa literatura tem sempre um caráter instrutivo
A boa literatura tem sempre um caráter instrutivo, ainda que velado, o qual possibilita que o leitor cresça através da leitura. Por isso faz bem ao escritor questionar o quanto ganharia um leitor hipotético ao ler o que pretende escrever: a depender da resposta, talvez o melhor seria buscar outras ideias, mais convincentes, mais realistas, menos egoístas e mais individuais. Porque é bem isto o que fica evidente quando se pratica tal exercício: as melhores ideias, aquelas que com mais facilidade agregarão algo à experiência do leitor, são aquelas mais particulares, aquelas mais intensamente vividas e mais profundamente assimiladas. Em resumo: ensina-se bem somente aquilo que se conhece bem.
A literatura é uma ocupação dificílima
A literatura é uma ocupação dificílima porque, em geral, seus resultados não se fazem palpáveis. Daí que pareça, diante de uma “ocupação prática”, inteiramente inútil. E ainda que assim não seja, é assim que parece ao escritor que diariamente trabalha, isto é, a rotina de criação invisível faz brotar uma sensação de inutilidade difícil de dominar, sensação muito agravada pela realidade palpável de que a obra recém-criada ninguém afeta, ninguém estimula, e frequentemente não é sequer notada por ninguém. Mas aqui está o brilhante paradoxo: quanto mais inútil pareça a literatura, tanto mais é autêntica. E o grande escritor completa-se vencendo as aparências e deixando como legado o seu exemplo de superação.