A verdade não dita pela crítica literária

A verdade não dita pela crítica literária é que, afinal, pouco importa a construção de personagens, o arco dramático, a descrição de ambientes e demais bobagens quando o que se cria é produto isolado do engenho mental. Basta de mentiras! O que importa na literatura é a transubstanciação para as letras de experiências vivas e pessoais, que se gravaram no íntimo do autor e que, por humanas, merecem interesse universal.

A radical decisão de Cioran

Vem à mente a radical decisão de Cioran que, banindo o idioma materno da mão e da língua, prometeu-se jamais ganhar a vida senão pela pena, isto é, jamais trair a vocação reconhecida para ganhar mais dinheiro noutra ocupação qualquer. O resultado foi uma óbvia e permanente ausência de conforto, para dizer o mínimo de um escritor que isolou-se num cubículo alugado, sustentando-se através de uma como esmola e alimentando-se num refeitório popular, quando o intelecto o permitiria possibilidades infinitamente superiores. Tudo isso parece sugerir que faz bem sempre nos perguntarmos mentalmente antes de abrir um livro: de quanto este senhor abriu não para escrever?

O escritor cuja vida é involuntariamente invadida…

A despeito da recomendação geral, o escritor cuja vida é involuntariamente invadida e transtornada pela política não tem o direito, mas o dever de inserir política em sua obra literária. Isso é, em suma, uma obrigação para com as gerações futuras, às quais tem de transmitir o sabor de sua experiência pessoal. Não fazê-lo é negar-se. Um preso político, pois, ainda que contrariado, perdeu o direito de calar-se a respeito da opressão sofrida, e é justamente a ele destinada a missão de dar travo político às linhas, pois é justamente ele que tem como amparo a circunstância que todos os outros não têm.

Mais curioso que exemplos como o de Baudelaire…

Mais curioso que exemplos como o de Baudelaire, que encontrou noutras bandas o seu ensaio de teoria estética já descrito e praticado, é depararmo-nos com autores, coevos ou não, que se assemelham em conteúdo e forma, embora se desconheçam. Os exemplos não são poucos, e atestam que a manifestação literária autêntica é um impulso antes instintivo, antes associado às particularidades da experiência que ao estudo propriamente literário.