Há uma diferença entre o estudante que busca solucionar problemas e o que busca expandir seu arsenal de impressões. O primeiro muito se beneficia quando, por longos anos, fora o segundo; já este, naturalmente, tenderá a se converter no primeiro, tão logo sinta o incômodo de permanecer passivo diante das contradições que se vão brotando de suas impressões. De qualquer modo, o primeiro nunca pode deixar totalmente de agir como o segundo, pois ser-lhe-á sempre benéfico que aumente o acervo de informações no qual poderá procurar por respostas. O afã é-lhe, decerto, carregado de importância e responsabilidade adicionais; mas ocorre que, a depender das respostas, é inútil buscá-las sem antes ter passado por uma longa e paciente preparação.
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Todas as motivações artísticas são fugazes…
Todas as motivações artísticas são fugazes, senão aquelas que remontam ao reconhecimento verdadeiro do valor da experiência e da nobreza em empenhar-se por representá-la em obra que ficará quando o tempo as consumir. Ser artista, em suma, é ter a arte como algo pelo qual se justifica o esforço de uma vida. Isso, é verdade, costuma se dar somente naqueles que, profundamente impactados, despem-se da vaidade para reconhecer em outro o modelo daquilo que desejam ser: num rasgo de humildade, convertem o agradecimento em motivação.
Aquele sentimento de amor à língua…
Aquele sentimento de amor à língua, magnificamente retratado por Bilac em um de seus sonetos imortais, é algo que parece imprescindível em qualquer cultura autêntica, e qualquer cultura que tencione sobreviver. Talvez, seja justamente este o elemento distintivo unificante de que carecem alguns dos países europeus essencialmente cosmopolitas, que às vezes parecem aos sociólogos, se não amorfos, mais uma extensão de qualquer país vizinho. A nível individual, o sentimento parece ainda mais importante, e se a língua falasse, seria muito bom que determinasse, a fim de evitar um número incontável de disparates: “Se não me amas, por favor, deixa-me em paz”.
Se um tema se torna recorrente…
Se um tema se torna recorrente, como que reaparecendo em mente pedindo nova abordagem, é sinal de que merece maior atenção. O comum seria abandoná-lo, colocando o abandono na conta de uma suposta falta de criatividade, quando só raramente se vale de algo novo para criar. Ocorre que, muitas vezes, o retorno é evidência de importância pessoal, evidência que deveria ser obrigatória em tudo aquilo que o artista se propõe a abordar. Portanto, é considerá-lo com cuidado, porque a grande obra é geralmente rebento de uma grande obsessão.