Analisando a minha obstinação com aqueles temas que dão as notas mais insuportavelmente pessimistas de minha ficção, a saber, a violência, a insegurança, a feiura do ambiente e a incultura como norma, vejo que, instintivamente, acabo acertando aquilo que mais se distingue e mais importa nas últimas décadas. Nada há de original em nenhum destes temas; contudo, a virulência com que eles se impõem no cotidiano atual, todos eles de alguma forma interligados, e todos eles com ramificações incalculáveis, é algo que há algumas décadas não poderia ser retratado, por não corresponder à realidade. E mais importa fazê-lo agora porque mais se tenta ocultar o quão deprimente é o estado em que o Brasil se meteu. Não é possível olhar tudo isso sem o máximo espanto: um país que objetivamente alia as maiores taxas de homicídio com os piores níveis de educação do planeta… Dizê-lo e retratá-lo é, mesmo, desagradável, e não pode senão despertar antipatias. Mas alguém tem de fazê-lo, ainda que por consideração às vítimas desta catástrofe.
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A mitologia grega é mesmo fascinante…
A mitologia grega é mesmo fascinante. E mais a estudamos, mais ficamos impressionados com o painel vastíssimo de condições humanas que ela encerra. Ficamos, aliás, com a sensação de que não há sentimento, não há destino humano que não encontre ali um modelo. E as demais criaturas singularíssimas, as cidades e cenários fantásticos, é tudo demasiado vivo e estimulante para a imaginação. Contudo, há de se notar que, a despeito de todo o esplendor da mitologia grega, parece o seu universo carecer de uma divindade que não se resuma a uma espécie de homem com poderes sobre-humanos. Se é isso o que buscamos, temos de procurá-lo em outro lugar.
A delícia na escolha das rimas
Em meio a agruras intermináveis, não há negar que o fazer poético guarda certa delícia na escolha das rimas, na escolha e na posterior constatação de seu efeito. Não importa o quanto se mecanize o processo, a descoberta de uma rima inesperada é sempre prazerosa e estimula sobremaneira, chegando a tornar-se um como vício que não faz senão mais e mais atrelar o poeta à linguagem. Afinal, é um vício que acaba produtivo e, uma vez experimentado, faz impressionar sobre a indiferença com a qual alguns poetas o repeliram.
Se, por um lado, é muito útil ao artista…
Se, por um lado, é muito útil ao artista não se afobar e guardar algumas de suas inspirações para que possa melhor trabalhá-las, por outro tem de desenvolver um senso muito apurado para reconhecer os seus estados de espírito e ideias excepcionais, tem de saber, em suma, quando é imprescindível aproveitar o momento. Há ideias que, lamentavelmente, passam, e estados de espírito que só se experimenta uma vez. A idade sobretudo o demonstra. O escritor experiente, por mais experiente que seja, não pode retornar ao passado para escrever. Nada há de mal nisso, exceto se, por demasiada cautela, perceba nele uma oportunidade que se perdeu.