Está dito que o jovem poeta Merejkovski…

Está dito que o poeta Merejkovski, aos quinze anos, pediu uma opinião a Dostoiésvki sobre a qualidade de seus primeiros versos. Após julgar que não valiam nada, o experiente romancista justificou-se dizendo que, para escrever bem, é preciso sofrer. Sofrer! Decerto, há muita verdade nesta afirmação: nada de importante se compreende antes de uma boa dose de sofrimento, e portanto nada de importante se pode expressar. Mas o curioso é ver que nas agruras, exatamente nelas, brota uma centelha como resposta ao desafio circunstancial. A mente, atingida, sofre e precisa superar a situação. Então tem de compreendê-la, dimensioná-la, absorvê-la. O esforço afinal a engrandece. O sofrimento deixa uma marca, e o resultado traz uma lição. É experimentando-o diversas vezes que o escritor se capacita a ter algo autêntico a dizer.

Embora a poesia bucólica possa…

Embora a poesia bucólica possa, com razão, parecer chatíssima, por vezes intragável, o sentimento que articula é decerto autêntico e belo. E ainda que os versos cansem, quase sempre por se estenderem mais do que deveriam, faz muito bem meditar a imagem que deles brota. O mero imaginar a satisfação plácida e perene que se pode extrair de uma vida centrada na simplicidade e na comunhão com o meio é algo positivo, pois enriquece o imaginário com uma possibilidade tangível que o mundo quase sempre se esforça por esconder.

Estilisticamente, tolera-se muito…

Estilisticamente, tolera-se muito; mas esse vício de ocultar o que está sendo dito, de intencionalmente complicar o simples, só se tolera caso o esforço de interpretação premie; do contrário, o autor não consegue mais do que irritar. E o pior é ver a quantidade dos exemplos dessa prática, que para alguns passa por mérito, como se dizer obliquamente fosse criativamente dizer. É lamentável. A mesma linguagem, sublimada pelos grandes, rebaixa-se a refúgio para aqueles que não tem o que dizer.

Em literatura, é depois de se ter investido…

Em literatura, é depois de se ter investido horas e horas de esforço por muitos anos que se alcança o grau de comprometimento ideal. Antes disso, move-se mais por uma motivação que, grande ou pequena, caso cesse fará que se interrompa o desenvolvimento da vocação. Depois dessa fase, é sempre perante um trabalho monstruoso já realizado que o escritor irá se confrontar. Já não há volta, o que está feito impõe-se, e o necessário é simplesmente continuar.