Se não necessário, é no mínimo saudável que o escritor varie periodicamente o estilo, o formato, o gênero aos quais conforma as ideias que tem. Assim é por inumeráveis motivos, a começar por quão estimulante é o fazê-lo, e também pela tomada gradual de consciência das possibilidades expressivas que jamais se esgotam. Mais do que isso: neste exercício, descobre-se que há lugares mais adequados para ideias e ideias, e evita-se o ter de misturá-las todas — porque certamente virão variadas na mente criativa — num só formato. O melhor, pois, é variar como Voltaire; e é bom que o escritor o tenha em mente, caso assim não proceda espontaneamente.
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O verde
Chega a ser engraçado quão desagradáveis sentimentos o verde é capaz de suscitar. A sorte é que, o mais das vezes, ele não predomina sobre as outras cores no campo de visão. Coloque-se, porém, um coitado num ambiente em que se veja dele rodeado e por ele agredido e, em pouco, ter-se-á o desespero. Tolera-se a exposição ao verde como tolera-se um inseto: desejando que ele suma de nossa frente, para que não tenhamos de agir.
Quando se perde um rascunho
Quando se perde um rascunho, mas persiste na memória aquilo que foi esboçado, dá-se algo interessante. Percebe-se ser possível restaurar o rascunho percorrendo novamente as mesmas etapas do raciocínio que o concebeu; mas não ser possível restaurá-lo palavra por palavra, exatamente como era. Nota-se, então, que algo se perde no processo. Disso conclui-se que se pode dizer o mesmo um dia após o outro, renovando-o pela maneira como se diz; contudo, fica entranhada neste como a singularidade do momento em que se disse e, enfim, o rascunho perdido é mesmo o momento que se foi…
Os verdadeiros artistas e os verdadeiros filósofos…
Os verdadeiros artistas e os verdadeiros filósofos têm em comum ser-lhes a obra resultante da reflexão sobre a experiência. Desta, em ambos, brota a necessidade de expressão que, em cada um, se concretiza diferentemente. Quer dizer: é através da reflexão que descobrem o que dizer, e após ela que experimentam a sensação de ter de dizer. O resto é o como fazê-lo — o menos importante. Mas esse impulso inicial que os une atesta a verdade daquilo que fazem e os diferencia de todos aqueles que, pelos mais diversos motivos, perpetuam a falsificação.