A literatura do século XX

A literatura do século XX descobriu que, para conquistar o homem comum, é infinitamente mais fácil descer-lhe ao nível em vez de elevá-lo. É uma descoberta notável. Quando se diz a maior banalidade concebível da forma mais prosaica que se pode imaginar, dá-se algo impressionante, quase mágico, e coloca de joelhos o homem comum. Finalmente, de olhos rutilantes, este experimenta a sensação de compreender aquilo que lê! É uma fórmula infalível, e a ela soma-se o prazer da curiosidade em ver o espetáculo de artistas que, como dentro de um santuário, comportam-se como estivessem numa feira. É sem dúvida uma literatura capaz de exercer um fascínio inigualável no homem comum.

O Modernismo brasileiro

O Modernismo brasileiro prestou um grande serviço à literatura comprovando de vez o quão sem graça, desinteressante e tedioso é o fútil, sendo impossível mudá-lo, mesmo para mentes criativas. É uma poesia comum, destinada a homens comuns; mas uma poesia que não os eleva, nem os estimula, nem os faz pensar. Os falsos intelectuais, é verdade, acham nela inovações infinitas e muito se deleitam — mas terminam, no fim de quantos versos forem capazes de ler, exatamente como estavam antes de lê-los. Já aqueles mal-acostumados com a grande arte, é-lhes impossível suportar mais que algumas poucas páginas destas frivolidades que não fazem senão desviar da única e flagrante verdade: a cabeça que as concebeu nada tinha de interessante para dizer.

Em literatura, é tão proveitoso variar o estilo…

Em literatura, é tão proveitoso variar o estilo quanto o é, na vida, variar o pensamento. O risco de não fazê-lo é viciar-se e diminuir-se, estreitando horizontes e fadando a próxima expressão a ser uma réplica da anterior. Em certa medida, variar o estilo é também pensar diferente, e o escritor que se acostume a fazê-lo se estará habituando a estimular o cérebro a não se contentar, acomodado, com aquilo que já concebeu.

Engana-se o escritor supondo…

Engana-se o escritor supondo que transformará sua arte carregando indefinidamente a mesma vida medíocre. É bom ter não mais que um canto para escrever e, temporariamente, ele basta. Também é bom ater-se e acostumar-se ao estritamente necessário para, sobretudo, distingui-lo. Mas para que haja transformação na arte, e para que seja esta verdadeira, é preciso operá-la também na vida, porquanto residem nesta as circunstâncias que motivarão sua obra, a menos que se traia. É necessário, pois, um esforço por modificar e moldar a realidade inteira, tanto quanto suas forças o permitam; e se dele não provierem resultados satisfatórios, será do próprio lidar consciente que brotará o melhor de sua motivação.