O artista nunca se deve fiar na aparente qualidade daquilo que cria, porque é este um parâmetro que, definitivamente, não lhe cabe e nem cabe aos seus coevos julgar. Na pior das hipóteses, deve suportá-la. Fazer arte é direcionar o esforço para a concretização de uma imagem mental sob uma forma artística; fazê-lo, enfim, é dar vida a uma ideia. Na medida em que esta lhe pareça justa e o convença e comova, o trabalho é representá-la com sinceridade e potência, representá-la de maneira que faça jus à vivacidade da representação mental. Quanto ao resultado, ao artista importa somente o grau em que foi possível expressar aquilo que se tencionou expressar, quer dizer, se foi ou não fiel à própria ideia — o que, finalmente, representa se foi ou não fiel a si mesmo.
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A possibilidade de fechar um livro
A possibilidade de fechar um livro, tal como as de pular capítulos, avançar ou retroceder, nunca deve deixar-nos a mente enquanto lemos, posto que a leitura, para que bem aproveitada, deve ser motivada e sustentada por nosso interesse. A menos que fale mais alto um dever inarredável, que alicerce portanto a necessidade de ler da primeira à última linha, quando se manifesta um súbito desinteresse durante a leitura, é preciso agir para evitar a perda de tempo e até a incompreensão. Lembrando-nos sempre de que a leitura é uma escolha, podemos aproveitá-la muito mais.
O que faz a recentíssima inteligência artificial…
O que faz a recentíssima inteligência artificial é impressionante. O que vislumbramos que pode fazer, ou melhor, o que seguramente sabemos que fará em pouco tempo, é ainda mais. Por isso, há muitos a suspeitar que esteja a literatura ameaçada, ou que os autores, de certa forma, serão “superados” pela máquina e se tornarão irrelevantes. Isso é, decerto, algo falso. Avance o quanto avançar, aprimore-se tanto quanto possível, mas a inteligência artificial jamais se livrará do adjetivo que lhe está colado. Por este motivo haverá sempre um limite para aquilo que poderá fazer, haverá sempre a impossibilidade de que expresse algo que manifeste uma experiência individual, real e única, algo que sirva como a concretização de uma consciência que evolui e se registra no tempo através das letras. E que a tal inteligência se aprimore! que atinja níveis de espetacular acurácia! Assim ficará mais claro do que nunca aquilo que, em arte, é artifício, e aquilo que é substância.
Não há poesia bucólica brasileira
Não há poesia bucólica brasileira. Se aqui já fizeram versos deste feitio, foi apenas pelo exercício e pelo prazer da imitação. Cenário idílico nos campos, aqui não passa de piada. Os portugueses, mais do que por terem dominado os mares, merecem respeito eterno por terem suportado o insuportável mato brasileiro, por essência intratável, dotado de um vigor que o homem jamais dominará. É preciso bravura e coragem, mas são ambas insuficientes. Cubram-se os matos de cimento, mas sobre o cimento perdurarão os insetos; e as cobras, os ratos, as aranhas, os escorpiões também haverão de aparecer. Inundem tudo, e todas as espécies transmutarão e continuarão a estorvar sob novas formas debaixo da água. Seja esta gelada, e debaixo dela continuará a fazer calor… É isso, não há mais o que dizer.