Os caçadores de cacófatos

Não há senão rir, e rir a plenos pulmões, desta crítica que enxerga “um mamão” em “uma mão” e faz divertidíssimas transformações como “a não dizer” em “anão dizer”. Sem dúvida, o que fazem tais caçadores de cacófatos não é crítica literária, mas humor, e humor de ótima qualidade. É preciso estar muito ocioso, ou ser um legítimo palhaço para querer condenar um autor pelo que não disse e nem ao menos pensou em dizer, por algo só divisável numa cabeça inteiramente vazia, que devaneia em vez de prestar a devida atenção naquilo que lê.

Teoria do verso, de Rogério Chociay

É demasiado fácil apontar os defeitos e lacunas de uma obra como esta; difícil mesmo é dimensionar o esforço monstruoso necessário para a sua realização. Sem dúvida, apresentar um todo coerente, trilhando sendas apenas apontadas por predecessores, numa obra deste fôlego e desta complexidade, não é tarefa simples. E parece, mesmo, que pela clareza, pela abundância e qualidade de exemplos, é este, de longe, o melhor e mais completo tratado de versificação que há em português. De resto, é parabenizar o excelente trabalho do professor.

Vai-se outro ano…

Vai-se outro ano, e mais um punhado de páginas prontas para envelhecer. É prazeroso despegar-se e abandoná-las, esquecê-las, e assim livrar-se da obrigação que a elas acorrentava. Mais do que isso: é prazeroso ver que, agora, é o hábito aliado, e já se foram as incertezas e oscilações pregressas. Há um corpo que se amplia, se completa; e apenas por havê-lo pode-se distanciar e apreciar melhor as páginas recentes. Estabilizou-se a empolgação em bom nível, e o futuro menos preocupa que o presente. Basta continuar…

Olhar para trás e sorrir

Afinal, o que importa é olhar para trás e sorrir. É analisar a obra e julgá-la, se não boa, justa. E ver que a intenção não se corrompeu, e que não se fugiu do que havia de ser feito, e que se fez. Se a obra feita ora desagrada, se não se afina com o hoje, é também bom, porque a mudança é boa e é bom aprender. Só importa olhar para trás e sorrir.