Na arte e na filosofia, a originalidade alcança o reconhecimento mais rapidamente que o valor. Na filosofia, porém, parecem as ideias originais garantirem a longevidade, e quanto mais originais forem, mais seguramente a garantem. O fenômeno é curioso, porque ocorre a despeito do valor da ideia. Esta, se original e ainda que absurda, ainda que mil vezes refutada, parece merecer sempre a generosidade de uma citação. Já na arte, embora a originalidade faça barulho, desgasta-se invariavelmente com o tempo. Na arte, uma obra só perdura se, para além da originalidade, guardar alguma coisa de valor.
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É preciso escrever regularmente…
É preciso escrever regularmente para que o hábito automatize a reafirmação do voto e o espírito não sucumba aos perigosíssimos lapsos nos quais a literatura parece insuficiente e a motivação se esvai ante a aflição de escrever ou, antes, ante a aflição de existir. O escritor não pode permitir que a limitação da vida transmita a ilusão de que a literatura é também limitada. É preciso que enxergue nesta justamente o que aquela carece; portanto, transformando a ocupação não somente num refúgio, mas na solução do problema de existir.
Toda essa aflição experimentada pelo escrito…
Toda essa aflição experimentada pelo escritor sério poderia ser mitigada caso para ele fosse possível prometer-se e enganar-se, a cada nova obra, que após completá-la deixaria de escrever. Portanto, enxergar a obra presente como a última, sempre. Assim, a ilusão do alívio posterior daria forças para que o penosíssimo trabalho do momento não afligisse, e sim motivasse por ser o derradeiro de um espírito que está a um passo de descansar. Lamentavelmente, isso não é possível. O que é possível é enxergar em desalento o quanto ainda se tem por fazer, é sentir-se aprisionado ao dever, obrigado a forçar linhas que recusam-se a sair, e então fritar-se num processo terrível do qual a satisfação é estranha e o resultado é sempre a mesmíssima aflição.
Farias Brito é um desses homens cuja biografia…
Farias Brito é um desses homens cuja biografia acentua sobremaneira a emoção — e não há outra palavra — que experimentamos em contato com suas obras. É impossível não se comover, e não ser tomado da mais profunda admiração ao constatar que estas, mais do que o valor que possuem como obras, representam uma vitória extraordinária sobre as circunstâncias que pareciam condenar o filósofo a jamais sê-lo, a jamais sequer pensar em sê-lo. Pensamos no menino, e em seguida vemos o homem. Lemos e relemos a prova material do impossível, e então somos obrigados, pela honra, a deixar de lado todas as questões supérfluas e saudar, num grito de reconhecimento e consideração, o espírito que se provou valoroso pela vida e eternizou-se pelo exemplo de superação.