Enfim, damos mais valor a obras que, sob uma perspectiva inteiramente subjetiva, geram um impacto maior. É esse o único parâmetro que nos importa deveras. Parece, também, ser o mais justo, posto que independente de nossas predisposições. Não podemos controlar aquilo que uma obra é capaz de gerar-nos, e disso percebemos que nada podemos fazer quanto à sua força. Assim, em última instância, ao nosso julgamento basta-lhe a sinceridade para admitir o quanto uma obra foi capaz de nos transformar.
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Há linhas que, ainda que nos pareçam…
Há linhas que, ainda que nos pareçam repletas de absurdos, conduzem-nos o pensamento a áreas interessantíssimas e por vezes inexploradas. Por isso, faz bem que incentivemos a exploração do contrassenso: dele ocasionalmente extraímos o inédito e inesperado, e podemos chegar a paradeiros surpreendentes, ainda que não tenha sido esta a intenção do autor que está em nossa companhia. Faz diferença? Parece que não…
Evita-se muita frustração lembrando-se…
Evita-se muita frustração lembrando-se de que a arte também é majoritariamente constituída de homens medíocres, com inclinações medíocres, que aprenderam a técnica artística como aprenderiam a soltar pipa ou a jogar Sudoku. Assim, a maioria se distingue apenas superficialmente, quando em essência nada têm de superior. Portanto esperar, a cada obra, a descoberta de um espírito extraordinário é simplesmente irracional. Justamente por serem raros é que os grandes artistas merecem um apreço especial.
Drummond afirmou preferir Camões a Pessoa
Drummond afirmou preferir Camões a Pessoa por ser este “frio” e, segundo Drummond, tocar-nos apenas a dimensão intelectual. Preferências… Mas aí está uma observação que pode servir de guia para esta comparação já corriqueira: a “dimensão intelectual”. Se a tomamos com outro sentido, isto é, dizendo respeito à dos dois poetas e não à nossa, não há como não concluir que, em Fernando Pessoa, é ela mais refinada, mais abrangente e mais profunda: há na obra de Pessoa uma multiplicidade que talvez não se encontre em outro autor português. Exatamente por isso, da mesma maneira que é possível declarar uma preferência a Camões por ser ele menos “frio”, é possível declará-la a Pessoa por ser-lhe o mundo interior ostensivamente mais rico que o mundo exterior que serviu de base aos versos de Camões.