Alguma experiência na literatura escancara…

Alguma experiência na literatura escancara a desagradável verdade de que os períodos mais produtivos, as inspirações mais fecundas se dão sempre e exatamente nos períodos de maior tensão interior. Faz-se a melhor arte quando a mente se encontra agitadíssima, muitas vezes à beira do colapso. Os temas surgem, as palavras aparecem e, sobretudo, não se suporta a imperiosa necessidade de escrever.

Se é verdade que a profissão…

Se é verdade que a profissão, ou melhor, o ganha-pão exerce inevitável influência nos temas os quais se inclinam os escritores a abordar nas suas obras, há, certamente, profissões e profissões. O direito, em maior ou menor medida, inclina à percepção de burocracias e injustiças intermináveis. O jornalismo, à perfídia. Nestes dois exemplos, é difícil que a temática não conduza, também, a um determinado tom. Portanto, apesar de ambas as áreas de atuação aparentarem possuir um elo íntimo com as letras, cai-se facilmente em lugares-comuns quando nelas se busca a matéria-prima para a obra. Por outro lado, profissões aparentemente menos ligadas às letras, como a medicina, especialmente a medicina de consultório, fornecem um arsenal de experiências humanas variadíssimo e muito difícil de classificar. Neste caso, não parece a extração do material vir acompanhada da sugestão de temática, nem do tom.

Como é difícil a criação da obra positiva!

Ah, como é difícil a criação da obra positiva! O mais fácil, sempre, é deixar-se levar pelo caminho apontado pelas impressões negativas… e, pior, no trilhar desta via contrária, desta via do maior esforço, muitas vezes parece faltar o estro, falhar o raciocínio e o resultado sai como chocho, insatisfatório. Só com muita paciência e muita vontade supera-se essa infeliz inclinação…

É difícil imaginar outro país ocidental…

É difícil imaginar outro país ocidental nas condições brasileiras, isto é, onde a alta cultura não apenas não influi, mas como inexiste. A parcela da população que constitui exceção a esta regra é tão ínfima, tão desprezível, que é como se não existisse socialmente, pois o que tem de distintivo não o manifesta em ambiente comum, e nem poderia fazê-lo, mesmo que quisesse. Se cresce nela envolvida, se guarda em si algo da alta cultura, o faz em silêncio, reservadamente. E passa uma vida inteira desta forma, levando uma existência paralela, nunca revelada aos demais. Não se pode subestimar um ambiente como este, contudo, positivamente, dele se pode extrair uma energia fenomenal.