A boa literatura tem sempre um caráter instrutivo, ainda que velado, o qual possibilita que o leitor cresça através da leitura. Por isso faz bem ao escritor questionar o quanto ganharia um leitor hipotético ao ler o que pretende escrever: a depender da resposta, talvez o melhor seria buscar outras ideias, mais convincentes, mais realistas, menos egoístas e mais individuais. Porque é bem isto o que fica evidente quando se pratica tal exercício: as melhores ideias, aquelas que com mais facilidade agregarão algo à experiência do leitor, são aquelas mais particulares, aquelas mais intensamente vividas e mais profundamente assimiladas. Em resumo: ensina-se bem somente aquilo que se conhece bem.
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A literatura é uma ocupação dificílima
A literatura é uma ocupação dificílima porque, em geral, seus resultados não se fazem palpáveis. Daí que pareça, diante de uma “ocupação prática”, inteiramente inútil. E ainda que assim não seja, é assim que parece ao escritor que diariamente trabalha, isto é, a rotina de criação invisível faz brotar uma sensação de inutilidade difícil de dominar, sensação muito agravada pela realidade palpável de que a obra recém-criada ninguém afeta, ninguém estimula, e frequentemente não é sequer notada por ninguém. Mas aqui está o brilhante paradoxo: quanto mais inútil pareça a literatura, tanto mais é autêntica. E o grande escritor completa-se vencendo as aparências e deixando como legado o seu exemplo de superação.
Observa-se por vezes naquele experimentado…
Observa-se por vezes naquele experimentado em literatura a capacidade incomum de distanciar-se de si mesmo para analisar-se, isto é, de ver-se como em terceira pessoa, imaginando-se personagem de um romance, não idealizando a própria vida, mas enxergando-se como alguém que decide e colhe os frutos das próprias decisões. Queira, também, idealizar a própria vida, e então será capaz de medir o quanto aproxima-se ou distancia-se daquele que tenciona ser. Em ambos os casos, consegue sobretudo conhecer-se num nível que, sem o conhecimento aprofundado da dinâmica das biografias, é muito difícil de alcançar.
Se o autor é sincero e fiel à sua experiência…
Uma infinidade de exemplos demonstra que, se o autor é sincero e fiel à sua experiência, fiel à sua motivação artística, a obra que cria jamais se enquadra em modelo nenhum. Ela sai, é claro, com traços que evidenciam mais ou menos suas influências, mas vem também carregada de uma ambiguidade, de uma singularidade toda especial. Ainda que falhe na expressão, ainda que lhe falte estro para concretizar o planejado, a obra sempre terá no íntimo aquela sinceridade sem a qual não se faz arte duradoura. E isso é o principal.