A poesia de Gonçalves Dias

Não são poucos os defeitos da poesia de Gonçalves Dias. Mas muito mais numerosos, muito mais abundantes são os passos em que brilham a forma e a expressão, e o poeta alça-se indiscutivelmente ao nível dos melhores da língua portuguesa. Gonçalves Dias encanta, sobretudo, pela sinceridade na expressão poética, que convence e nada tem de afetação. Uma poesia emocionada e vigorosa, que merecidamente foi recebida como a melhor de seu tempo a nível nacional e que toca, ainda mais, posto amparada por uma biografia digna de um poeta.

Uma lista de próximas leituras só cresce

Não importa quanto se leia, uma lista de próximas leituras só cresce, sempre cresce, até tornar-se um monstro indomável e exigir, por humanamente inexequível, um novo planejamento, do zero, através de uma nova lista. Não há que fazer… É sempre a mesma coisa, e o processo é inevitável. Se, por um lado, é fundamental o planejamento dos estudos, por outro o seu cumprimento integral é inviável ou, melhor dizendo, inconveniente. Isso porque, no decorrer do processo, o interesse se expande para outras vias, e nada há de mais profícuo para a crescimento intelectual que seguir o curso do próprio interesse. As velhas próximas leituras, que fiquem para uma outra ocasião… Em resumo: listas de leitura são importantes diretrizes concebidas para serem descumpridas e descartadas. E é bom que seja assim.

É curioso como Kierkegaard, um escritor prolixo…

É curioso como Kierkegaard, um escritor prolixo, — que peca por ser prolixo, — dificilmente me irrita. Embora há trechos de sua obra que causam-me grande tédio, ainda assim não me provocam irritação. Já outros… Oh, Deus! O nome da vez é Jean-Paul Sartre. Como é possível que Sartre, um escritor notável, faça-me desejar desaprender a ler, quando suporto muitas e muitas páginas que sobejam da prosa de Kierkegaard? Parece-me que tolero a prolixidade quando noto o estado emotivo do autor, quando noto que o tema lhe é caro e, sobretudo, quando noto-lhe a sinceridade. Em contrapartida, se o autor despende palavras em nada, se foge do tema proposto, perdendo-se em raciocínios fúteis e vaidosos, gastando-me a vista, então um impulso incontrolável aponta-me o caráter exasperante do que estou a ler. Fecho a obra, bato-a contra a prateleira e verbalizo um insulto. Às vezes, arrependo-me… Não é o caso. Indescritível a alegria de abandonar Sartre para puxar um volume de Helena Blavatsky. Santa irritação!