É difícil imaginar um estado prolongado em que a personalidade não seja perturbada por elementos conflitantes. Tais perturbações, de ativação externa ou interior, não podem ser totalmente vencidas. O que elas podem, decerto, é ser toleradas, analisadas, absorvidas. E a personalidade faz-se com quanto perdura após o confronto com elas. Meditando-se um pouco, às vezes causa indignação notar que muitas vezes o choque é gratuito e prejudicial. Mas aí se percebe que a personalidade é um esforço, e vê-se o mérito em persistir em sua depuração.
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É muito difícil acostumar a mente…
É muito difícil acostumar a mente ao preceito estoico de não se preocupar com as condições sobre as quais nada se pode fazer, porque são estas frequentemente as mais torturantes e as que mais se gostaria de superar. Contudo, nota-se que a tensão resultante é quase sempre decorrente do contraste entre a realidade e uma situação desejada, sendo esta obra do desejo, e este filho do amor-próprio. Assim, percebe-se claramente que destruir o amor-próprio é derrubar toda esta cadeia aflitiva, mas quão difícil é fazê-lo sem descambar na inércia improdutiva! Vai muito até que a mente se acostume a agir sem expectativas, e quando se alcança esse estado beatífico, nota-se que ele é também instável, e exige muito esforço para que se faça perdurar.
É interessante notar que algumas personalidades…
É interessante notar que algumas personalidades fundam-se num elemento irracional que, embora possa parecer às vezes absurdo, opera como unificador. Só de imaginar-lhe ausente, o ser inteiro desmorona. Contudo, o atributo de loucos frequentemente recebido é, se não falso, extremamente simplista. Porque o mesmo irracional que atira nas contradições mais escandalosas, que induz a erros incríveis, que turva a razão e descontrola, é também responsável por uma coesão, por uma energia e por uma resistência que parecem sobre-humanas. Personalidades assim, incomuns, mas existentes, invalidam os manuais de comportamento e, afinal, enriquecem o conceito que se faz do homem.
Estados psicológicos
É curioso como a mente, a despeito de desconhecer limites para a intensidade com que experimenta seus estados, dificilmente consegue reconstituí-los com precisão. Com muito maior facilidade relembra atos cometidos, mesmo que estes tenham gerado efeitos psicológicos menos intensos, ou até nulos. Isso parece demonstrar que os estados psicológicos marcam somente enquanto indutores de alguma ação real; e é esta, afinal, que os torna recordáveis. Disso se pode extrair um preceito muito útil: quando se quer que um estado de espírito perdure, deve-se agir sob sua influência; quando se quer esquecê-lo, basta confiar à inação o seu dissipar.