A mente, se não controlada, definha. Para controlá-la, o dificílimo e contínuo esforço para descartar os impulsos naturais e irreprimíveis. Se o esforço cede, a vontade estabelece-lhe a ditadura, em que a razão é amordaçada. A mente tem-lhe a força e a liberdade vinculadas a um somatório de hábitos que ela mesma é responsável por ditar: se escusa-se da tarefa, condena-se à prostração.
Tag: psicologia
A psicologia só se aproximará de uma definição razoável…
A psicologia só se aproximará de uma definição razoável do homem quando voltar-se integralmente àquele que nunca compareceu a um consultório. Busque um eremita, alguém que despreze o mundo, que cultue o silêncio, que se enxergue separado da carne, que seja indiferente ao prazer e à dor… busque esse homem e verá quão inúteis lhe são os manuais, quão inaplicáveis todas as teorias e quão desgraçadamente falham em lhe explicar o comportamento. Tomando conhecimento que este homem existe, desesperada, provavelmente a psicologia se sentiria forçada a inventar para ele o nome de alguma doença — mas talvez, quem sabe?, ela poderia dar luz a uma terapia verdadeiramente transformadora e universalmente aplicável.
Os textos orientais antigos e a psicologia moderna
Causa assombro confrontar os textos orientais antigos com a psicologia moderna, constatando o lapso de mais de vinte séculos e a noção difusa de que esta última revolucionou a compreensão do homem. A psicologia moderna — científica, materialista — limita-se a analisar uma dimensão reduzida do homem, e se lhe resumirmos as façanhas, diremos que foi ela responsável por criar e disseminar a ideia de um modelo humano inferior. Nos textos orientais, tão antigos, — e sabe-se lá de quando data a tradição, — a psicologia humana se apresenta numa complexidade que escapa à psicologia moderna: o homem é pintado com uma dimensão muito maior. Tudo isso por uma razão simplíssima: os textos orientais antigos foram escritos por sábios que tomavam seus mestres como modelo; a psicologia moderna é escrita por psicólogos e psiquiatras que tomam como modelo seus pacientes. Por isso constatamos, nos primeiros, um vocabulário repleto de técnicas de purificação e, nos últimos, repleto de doenças mentais.
Uma psicologia que submeta o inconsciente a estímulos externos…
Uma psicologia que submeta o inconsciente — e consequentemente a personalidade — a estímulos exclusivamente externos pode até ser efetiva e aplicável ao homem comum, mas nunca será apropriada ao modelo humano superior. Nisto reside uma clara limitação da psicanálise. É verdade que a experiência, o meio e o resto deixam marcas, mas estas podem ser ínfimas se comparadas às do raciocínio na mente que aprendeu a menosprezar o exterior e especializou-se em pensar. Neste caso, traça-se como uma linha divisória entre seus primeiros anos e o momento em que descobriu a própria faculdade. Descobrindo-a, passa a exercitá-la numa análise comportamental minuciosa, que julga-se validando ou invalidando o que motiva-lhe o agir. Depois, opera uma remodelação — ou aprimoramento — da própria personalidade, em que estímulos internos passam ocupar o inconsciente. O resumo: o ser liberta-se das correntes psicológicas — caso as haja — e constrói-se, tornando-se quem deliberadamente deseja ser. Buscar no passado as justificativas para o comportamento de um ser como este, tirando-lhe a responsabilidade de agir como age ou ser como é, é mostrar-se absolutamente incapaz de compreendê-lo.