Idêntico mecanismo de estimulação mental

Linhas curiosas deste Aleister Crowley, em Eight lectures on Yoga:

Suppose I want to evoke the “Intelligence” of Jupiter. I base my work upon the correspondences of Jupiter. I base my mathematics on the number 4 and its subservient numbers 16, 34, 136. I employ the square or rhombus. For my sacred animal I choose the eagle, or some other sacred to Jupiter. For my perfume, saffron—for my libation some preparation of opium or a generous yet sweet and powerful wine such as port. For my magical weapon I take the sceptre; in fact, I continue choosing instruments for every act in such a way that I am constantly reminded of my will to evoke Jupiter. I even constrain every object. I extract the Jupiterian elements from all the complex phenomena which surround me. If I look at my carpet, the blues and purples are the colours which stand out as Light against an obsolescent and indeterminate background. And thus I carry on my daily life, using every moment of time in constant selfadmonition to attend to Jupiter. The mind quickly responds to this training; it very soon automatically rejects as unreal anything which is not Jupiter. Everything else escapes notice. And when the time comes for the ceremony of invocation which I have been consistently preparing with all devotion and assiduity, I am quickly inflamed. I am attuned to Jupiter, I am pervaded by Jupiter, I am absorbed by Jupiter, I am caught up into the heaven of Jupiter and wield his thunderbolts. Hebe and Ganymedes bring me wine; the Queen of the Gods is throned at my side, and for my playmates are the fairest maidens of the earth.

O paralelo com a arte é perfeito. Quer dizer: tanto o mago, quanto o artista, possuem idêntico mecanismo de estimulação mental. Seguindo os passos descritos por Crowley, isto é, incitando-se progressivamente em torno de um mesmo objetivo, sem dúvida é de se esperar uma espécie de êxtase, de extravasamento psíquico no ato da concretização desta longa sequência de esforços. Tornando as lentes ao artista, ou melhor, ao poeta, é de fazer rir o sentar-se ante a folha branca à espera da “inspiração”. Certamente, um poeta que assim procede é antiprofissional. O sentar-se, na arte, é o que representa a cerimônia na magia: o artista sério deve fazê-lo somente após completa a preparação necessária e quando a sentir-se inflamado, explodindo pela expressão de determinada ideia ou sentimento. Assim alcança, após meticulosidade científica nos aprestos, o estado de espírito propício para que lhe brote em mente o brilho e a justeza na expressão.

Antero de Quental e Cesare Pavese

No diário de Cesare Pavese, o suicídio pode ser facilmente entrevisto posto que encontramos, primeiro, a ideia suicida que lhe afigura repetidamente como solução, e, segundo, oscilações temperamentais que lhe turvam a razão. Em Antero de Quental, o quadro é todo outro. Antero é, entre outras coisas, um estoico — e isso implica simultaneamente as capacidades de aceitar a realidade e de controlar a si mesmo. Em Antero, a despeito do conflito psicológico atrocíssimo, encontramos a razão tomando as rédeas do instinto, e disso decorre que o espírito, acostumado a oscilações agudas, também vê-se acostumado a convertê-las em impulsos profícuos através da meditação. Como, aos quarenta e nove anos, pôde Antero suicidar-se? Por um lado, parece-me óbvio estarmos todos sujeitos às suscetibilidades da raça; por outro, parece-me errôneo querer atribuir causas comuns a um homem incomum.

Frankl, Jung e Freud

Graças a Deus, não habito clínicas de psicologia, mas apostaria que a logoterapia de Frankl supera a psicologia analítica de Jung e a psicanálise de Freud juntas em taxa de casos de impressionante mudança comportamental e sucesso terapêutico. Na logoterapia, vejo claríssima uma porta de saída para o caso de boa aplicação; algo que enxergo, também, na psicologia analítica de Jung, mas não na psicanálise de Freud, que mais parece um sistema paliativo de que o paciente jamais se poderá livrar — ao menos, não em casos verdadeiramente sérios. É verdade: há casos e casos — talvez, baseio-me nos infrequentes para a conclusão. A psicanálise moldou-se aos seus pacientes, e para eles pode ser efetiva. A psicologia analítica, mais abrangente e profunda, também é capaz de tratá-los — embora talvez para alguns “tipos psicológicos” seja menos agradável e, consequentemente, menos satisfaça. Para muitos pacientes, basta-lhes o desabafo de rotina; mas para o desesperado, o expressamente desiludido que entre num consultório em desamparo pleno, carregando em mãos uma vida medíocre e insatisfatória, que lhe inibe metodicamente as aspirações e não entregue sentido — para este, o candidato a suicida, o sentar num divã confortável e movimentar os músculos faciais é inútil, e o discípulo de Frankl parece-me o melhor preparado para entregar-lhe uma solução definitiva e dificilmente alcançável por outras terapias.

Viver é crer na mentira

“L’arte de vivere è l’arte di saper credere alle menzogne” — diz, com acerto, Cesare Pavese. Para agir, é necessário crer; não há vida sem esperança, sem ao menos uma ínfima expectativa, um mínimo brilhar de olhos que, ao acordar, espera o hoje melhor que o ontem. O homem deixa-se iludir por necessidade psicológica; ilusões são alimento para uma mente programada para acreditar. É por isso que a análise do ser humano passa necessariamente pela investigação do irracional.