Um problema é problema desde que a mente assim o classifique

De Lao-tsé, em tradução inglesa:

Stop thinking, and end your problems.

Que verdade! Um problema é problema desde que a mente assim o classifique — condições e fatos são frios; qualificação é obra mental. Tido o problema, as consequências: ansiedade, preocupação, conflito, perturbação psicológica. Anular a mente, bridar pensamentos… se há paz possível ao homem, eis o caminho. Contudo…

A mente, se não controlada, definha

A mente, se não controlada, definha. Para controlá-la, o dificílimo e contínuo esforço para descartar os impulsos naturais e irreprimíveis. Se o esforço cede, a vontade estabelece-lhe a ditadura, em que a razão é amordaçada. A mente tem-lhe a força e a liberdade vinculadas a um somatório de hábitos que ela mesma é responsável por ditar: se escusa-se da tarefa, condena-se à prostração.

A psicologia só se aproximará de uma definição razoável…

A psicologia só se aproximará de uma definição razoável do homem quando voltar-se integralmente àquele que nunca compareceu a um consultório. Busque um eremita, alguém que despreze o mundo, que cultue o silêncio, que se enxergue separado da carne, que seja indiferente ao prazer e à dor… busque esse homem e verá quão inúteis lhe são os manuais, quão inaplicáveis todas as teorias e quão desgraçadamente falham em lhe explicar o comportamento. Tomando conhecimento que este homem existe, desesperada, provavelmente a psicologia se sentiria forçada a inventar para ele o nome de alguma doença — mas talvez, quem sabe?, ela poderia dar luz a uma terapia verdadeiramente transformadora e universalmente aplicável.

Os textos orientais antigos e a psicologia moderna

Causa assombro confrontar os textos orientais antigos com a psicologia moderna, constatando o lapso de mais de vinte séculos e a noção difusa de que esta última revolucionou a compreensão do homem. A psicologia moderna — científica, materialista — limita-se a analisar uma dimensão reduzida do homem, e se lhe resumirmos as façanhas, diremos que foi ela responsável por criar e disseminar a ideia de um modelo humano inferior. Nos textos orientais, tão antigos, — e sabe-se lá de quando data a tradição, — a psicologia humana se apresenta numa complexidade que escapa à psicologia moderna: o homem é pintado com uma dimensão muito maior. Tudo isso por uma razão simplíssima: os textos orientais antigos foram escritos por sábios que tomavam seus mestres como modelo; a psicologia moderna é escrita por psicólogos e psiquiatras que tomam como modelo seus pacientes. Por isso constatamos, nos primeiros, um vocabulário repleto de técnicas de purificação e, nos últimos, repleto de doenças mentais.