A constatação da fragilidade da vida

O cérebro humano, máquina programada para buscar e identificar padrões, — mesmo onde os não há, — só coagido admite as conclusões provenientes da constatação da fragilidade da vida. Parece-lhe antinatural ter como determinante e presumível aquilo que, num átimo, transforma bruscamente a realidade. A falsa lentidão do tempo o ilude, a morosa mudança de estados parece-lhe conduzir a um fim inexistente — e a máquina, assim, dá luz a juízos errôneos sobre a existência. A dinâmica imprevisível da vida aparenta querer forçá-lo a aceitar que nem tudo resume-se a uma relação de causa e efeito; mas, para ele, o fazê-lo é confessar a própria fraqueza e sucumbir ao irracional.

Um problema é problema desde que a mente assim o classifique

De Lao-tsé, em tradução inglesa:

Stop thinking, and end your problems.

Que verdade! Um problema é problema desde que a mente assim o classifique — condições e fatos são frios; qualificação é obra mental. Tido o problema, as consequências: ansiedade, preocupação, conflito, perturbação psicológica. Anular a mente, bridar pensamentos… se há paz possível ao homem, eis o caminho. Contudo…

A mente, se não controlada, definha

A mente, se não controlada, definha. Para controlá-la, o dificílimo e contínuo esforço para descartar os impulsos naturais e irreprimíveis. Se o esforço cede, a vontade estabelece-lhe a ditadura, em que a razão é amordaçada. A mente tem-lhe a força e a liberdade vinculadas a um somatório de hábitos que ela mesma é responsável por ditar: se escusa-se da tarefa, condena-se à prostração.

A psicologia só se aproximará de uma definição razoável…

A psicologia só se aproximará de uma definição razoável do homem quando voltar-se integralmente àquele que nunca compareceu a um consultório. Busque um eremita, alguém que despreze o mundo, que cultue o silêncio, que se enxergue separado da carne, que seja indiferente ao prazer e à dor… busque esse homem e verá quão inúteis lhe são os manuais, quão inaplicáveis todas as teorias e quão desgraçadamente falham em lhe explicar o comportamento. Tomando conhecimento que este homem existe, desesperada, provavelmente a psicologia se sentiria forçada a inventar para ele o nome de alguma doença — mas talvez, quem sabe?, ela poderia dar luz a uma terapia verdadeiramente transformadora e universalmente aplicável.