Analisando os efeitos sempre corruptores e opressivos da psicologia de grupo, pode-se concluir que a honra exige a solidão — isto é, a recusa terminante em integrar qualquer coletividade. O pensamento coletivo é detestável, a imposição coletiva sobre o indivíduo infame. Mas o caminho é ingrato: há sempre um preço a pagar. A sociedade, com seu histórico vergonhoso de perseguição contra os rebeldes solitários, negando-os a possibilidade da recusa, submetendo-os sempre à sua tirania vil, não pode ser melhor definida senão como a manifestação espraiada do mal. Não espantaria descobrir que quem rege este mundo coloca defuntos para acordar dentro do caixão.
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Velhice, doença e morte…
Velhice, doença e morte; velhice, doença e morte: as obsessões que pavimentaram o caminho de Buda rumo à “iluminação”. Mais do que olhos abertos, é preciso coragem para confrontá-las. Buda compreendeu que nada vale o pensamento que não incorre em ação: do raciocínio extraiu filosofia, desta pautou-lhe a conduta. Velhice, doença e morte: tudo o que vive condenado ao suplício, ao esgotamento e à supressão. Quer sempre a mente iludir-se; pois que padeça, amargue diariamente as conclusões do juízo, até que tenha de si arrancadas todas até a última ilusão! E assim, ensina o arguto e iluminado psicólogo, escapa-se do ciclo maligno que redunda sempre em sofrimento e destruição.
A misantropia é um dos traços mais salutares ao raciocínio que se tem notícia
A misantropia é um dos traços mais salutares ao raciocínio que se tem notícia. Ser misantropo envolve um esforço contínuo e desafiador. Quando se é misantropo, o sujeito torna-se um estrategista por necessidade. Aprende psicologia para entender a mente dos outros, para então lhes prever o comportamento e ser capaz de evitá-los. Tem de ser especialista em estímulos emocionais para saber não suscitar nunca nenhum em ninguém. O misantropo sabe que sua sagacidade será inversamente proporcional ao desconforto proveniente das relações sociais; portanto, quanto mais sagaz, mais plenamente alcançará o objetivo de reclusão. O interessante é que o estímulo nunca cessa, o cérebro do misantropo é instigado o tempo inteiro e jamais descansa, posto sempre haver a possibilidade de alguém interromper-lhe a solidão e solicitá-lo para qualquer coisa. É como um jogo interminável, extremamente salutar à inteligência e que, mais do que qualquer outro jogo, atiça a vontade de ganhar.
Variações psicológicas
É interessante notar como varia aos extremos o psicológico de grandes artistas. Em comum se lhes nota a sinceridade. Mas como divergem, por exemplo, na visão que nutrem da própria obra! De um lado, exemplos como Kafka e Flaubert, em que a obra lhes parece não somente ruim, mas lhes machuca, aflige ter de pari-las e mirá-las posto são guiados por algo como que uma necessidade. De outro lado, figuras como Nietzsche e Pessoa, onde o desalento ante o espelho não somente parece inexistente, como se lhes nota com frequência uma vistosa imodéstia. Que concluir? Fica evidente que a grande arte é destino a que levam múltiplos caminhos.